ADMINISTRAÇÃO
PERVERSA
Artigo publicado
em 20.09.2007 no Monitor Mercantil
A administração Lula investe pesadamente no denominado
PAC para iludir a opinião pública, procurando “vender” a idéia de que existe
planejamento no Brasil. Na realidade, trata-se apenas da unificação, em um
pacote só, daquilo que já estava previsto no Orçamento da União para o período
2007/2011, com algumas alterações. E as primeiras ações implementadas são
objeto de duras contestações por parte do Tribunal de Contas da União (TCU),
justamente preocupado com as inúmeras irregularidades descobertas nesta fase
inicial. Preocupa a todos, em especial, o volume de recursos que vão ser
aplicados principalmente no ano vindouro, “por coincidência” quando ocorrerão
as eleições municipais.
A administração federal aumentou também em 27,8% o
valor destinado a programas sociais de transferência de renda e bolsas de
benefícios diretos no Orçamento da União de 2008. Trata-se de ações
governamentais que resultam em mais dinheiro na mão dos mais pobres, sem
interferência de qualquer outra entidade. Para 2007, o Orçamento prevê um gasto
de R$ 9,2 bilhões com essas ações. Em 2008, já estão previstos na proposta de
Orçamento, que será votada pelo Congresso, R$ 11,8 bilhões. Estão ainda
previstas ações complementares a serem empreendidas por administrações estaduais,
como programas de distribuição de leite, cestas básicas e os denominados
“cheque-cidadão”.
No ano vindouro, serão oferecidos então, além do Bolsa Família (11,1 milhões de famílias), com o acréscimo
de jovens entre 16 e 17 anos, o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti) com cerca de 2 milhões de jovens (que podem votar), o
Bolsa Atleta (cerca de 1.000 atletas), o PROJOVEM (em torno de 500 mil jovens),
programa este já lançado em fev/2005 e o Mães da Paz
(PRONASCI), com mais de 1.300 mães atendidas. De fato, a administração federal
desdobra programas e os anuncia como se novos fossem. O valor destinado a
políticas de transferência de renda em 2008 vai corresponder a quase 60% de
tudo aquilo que o governo gasta, por exemplo, com o pagamento pelo SUS (Sistema
Único de Saúde), de procedimentos médicos de média e alta complexidade. A
oposição caracteriza estas ações como sendo assistencialistas e eleitoreiras. E
o são.
A administração petista está executando uma política
perversa. É a mãe dos ricos, pois nunca a classe mais abastada ganhou tanto em
suas atividades. As empreiteiras é que determinam as ações governamentais,
configurando na prática um plano nacional de desenvolvimento. E a rentabilidade
média dos bancos no Brasil alcança uma taxa de 16%, o dobro da média dos EUA. E
é, ao mesmo tempo, o pai dos pobres, em virtude das práticas clientelistas e assistencialistas, capazes de garantir a
vitória nas eleições. Não percebem o erro grave cometido. As pessoas estão
adquirindo o hábito de ganhar sem trabalhar formalmente. Fica muito difícil
conseguir um emprego que propicie o ganho obtido com as “bolsas esmolas”
somadas com o rendimento obtido com as atividades informais. E a previdência?
Daqui a alguns anos, teremos um sério problema a
enfrentar. Pessoas que não contribuem agora e que procurarão os benefícios
previdenciários no futuro próximo.
As autoridades econômicas, em busca do superávit
primário, deixam de investir na infra-estrutura econômico-social, ocasionando o
“apagão geral”. E este plano é imposto goela abaixo
do povo, com características do mais puro requinte de sadismo, atingindo em
especial a classe média, alvo predileto sempre. Eles são os culpados, mas quem
vai cumprir a pena é o cidadão, honesto, digno e de bons costumes, que paga
suas contas em dia.
Por exemplo, as tarifas dos serviços públicos foram “dolarizadas”, pois o investidor estrangeiro só investe na
certa, para obter lucros vultosos. Daí a importação de gás natural da Bolívia,
com seus sérios problemas. Fica a sensação de que, por mais esforços que a
população realize, eles serão considerados insuficientes. E fica a pergunta:
onde está o cronograma de investimentos para resolução do problema?
O grande pensador português, Prof.
Boaventura Santos, declarou recentemente que não
entendia como o povo brasileiro suportava as agruras a que está sendo
submetido, sem reação, mostrando sua perplexidade com o conformismo de nossa
gente. Nunca o povo tupiniquim sofreu tanto. E quem trabalha está inseguro. Não
sabe até quando vai conservar o trabalho. A angústia é crescente. A cada
momento são imaginadas novas maldades para subtrair direitos dos trabalhadores.
A administração Lula conseguiu taxar os inativos e parte para eliminar direitos
trabalhistas adquiridos. Tudo com o objetivo principal de aumentar o lucro das
empresas, diminuindo o estipêndio dos trabalhadores, pensionistas e
aposentados. Os preços são progressivamente elevados. Medicamentos,
combustíveis, tarifas públicas, pedágios. E novos pedágios são criados. Tudo
aumenta. E os índices oficiais de inflação não refletem a realidade diária.
Resta saber até quando o paciente povo brasileiro
agüentará este festival de incapacidade, fracasso, irresponsabilidade, entreguismo (caso do aluguel de parte da Amazônia e
demarcação de reservas) e corrupção da atual administração. Afinal, de acordo
com a Legislação do Brasil, prevaricação é crime. E os (ir)responsáveis
deverão ser punidos com os rigores da lei.
Marcos Coimbra
Membro do Centro Brasileiro de Estudos Estratégicos (Cebres), é professor aposentado de Economia na Uerj e
conselheiro da ESG.
mcoimbra@antares.com.br
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