ADMINISTRAÇÃO NADA DINÂMICA

Prof. Marcos Coimbra

Conselheiro Diretor do CEBRES, Professor de Economia e Autor do livro Brasil Soberano

(Artigo publicado em 17.06.10 no MM).

         O Rio de Janeiro está sendo duramente castigado.  Há muitos anos não temos tido administrações competentes.

         O sofrido povo fluminense não merece isto. E infelizmente as perspectivas não são nada animadoras. Nas eleições de outubro, teremos a candidatura à reeleição do atual governador Sérgio Cabral, com o emprego de toda a máquina administrativa do Estado, somada à da União e de vários municípios, em especial a do prefeito Eduardo Paes. Até agora, o único candidato de oposição a ele é o Deputado Federal Fernando Gabeira, apresentado por um partido nanico, com escasso tempo de televisão. Como foi concretizada a aliança com o PSDB e o PPS, passará a ter um espaço um pouco maior no horário eleitoral dito gratuito. O outro candidato a ser lançado, o ex-governador Garotinho, enfrenta sérias dificuldades, principalmente na esfera judicial junto ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Estado, para conseguir ter o direito de ser candidato.

         Não entrando no mérito das acusações contra ele, apenas é de estranhar que ele esteja sendo acusado por delitos supostamente cometidos em 2008, sendo declarado inelegível por três anos, quando não exerce há cerca de oito anos cargo executivo. Enquanto isto há vários outros caciques políticos, exercendo cargos administrativos, acusados de delitos mais graves,  que continuam impunes. É no mínimo suspeita a decisão, tomada por 4 votos a 3, por um colegiado altamente sensível à ação do Poder Executivo estadual, comandado justamente pelo governador Sérgio Cabral, o maior interessado em alijar o ex-aliado Garotinho da liça. É fato sabido que o atual governador receia profundamente um confronto direto com Garotinho, em especial no tocante aos debates eleitorais a serem realizados, em virtude de suas notórias vulnerabilidades administrativas e pessoais.

         Na realidade, Sérgio Cabral é um administrador ausente. A administração do Estado é exercida de fato por assessores dele, com destaque para o vice-governador Pezão. Ele gosta mesmo de viajar para o exterior, usufruindo as benesses do poder, ou seja, gozando os bônus, sem querer o ônus das obrigações. A principal argumentação usada por ele em sua propaganda de campanha para a eleição de 2006, como também agora, é sua ligação com o presidente Lula, capaz, segundo ele, de garantir recursos suficientes  para o Estado. Afirma claramente que o mesmo não aconteceria caso o eleito fosse um candidato sem a mesma subserviência demonstrada por ele. Ora, é inadmissível sequer admitir que um presidente da República possa discriminar um Estado da Federação, em função de sua posição de oposição à administração federal. É obrigação dele o atendimento às justas reivindicações de todos os governadores, seja qual for o seu posicionamento. E agora chegou a hora da verdade. Cabral teve um posicionamento tíbio e  confuso na questão dos royalties, confiando no veto de Lula à modificação danosa ao RJ, feita no Congresso. Foi incompetente. Vamos verificar o resultado de sua omissão.

         A administração de Cabral é calamitosa em praticamente todos os setores, principalmente nas importantes funções de educação e saúde. Por exemplo, em 2001 foi realizado um concurso público pela administração Garotinho na área de saúde. Os aprovados tomaram posse ao final daquele ano e acreditem, nestes nove anos, continuam a receber o mesmo salário líquido da data da posse. Uma assistente social percebe pouco mais de R$ 1.300,00 líquidos, para uma carga horária de 24 horas semanais, com uma responsabilidade hercúlea, sem as mínimas condições de trabalho, situação idêntica a sofrida por seus colegas do setor (médicos, enfermeiros etc.). Sofrem a concorrência de “terceirizados”, indicados principalmente em função de razões político-partidárias, inclusive sendo estes nomeados para funções de chefia, passando a comandar os funcionários concursados.

         Na educação perdura o caos. Os alunos são aprovados sem terem as devidas condições de progresso. Os profissionais de ensino percebem salários ridículos, obrigando-os a lecionar em vários colégios, inclusive no ensino particular para garantir a sobrevivência. Padecem de condições sofríveis de trabalho, sendo até objeto de agressões pessoais, por parte de alunos e até de seus responsáveis. Não recebem apoio adequado para a devida reciclagem e procuram cumprir sua missão heroicamente, porém sem sucesso. Nossas escolas estão formando analfabetos funcionais.

         Na segurança pública, predomina a insegurança. As chamadas UPPs apenas transferem os problemas de uma região para outra. Todos sabem que é impossível instalar estas unidades em todas as favelas existentes, pois não há efetivo suficiente na força policial. Seria necessária a existência de um verdadeiro Exército, com quantitativo superior ao da nossa força terrestre. O cidadão tem medo de exercer seu direito constitucional de ir e vir. Precisa planejar seu trajeto de ida e vinda, em função da área e do horário, para não ser atacado. O aparelho repressor funciona bem para punir o cidadão, mas sofrivelmente para protegê-lo.

         Agora, a máquina administrativa estadual está funcionando a pleno vapor com o objetivo de reeleger o atual governador, sob a complacência da Justiça Eleitoral.

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