ADEUS À CANDIDO MENDES!

Artigo publicado em 20.07.2006 no Monitor Mercantil.

Prof. Marcos Coimbra

Membro do Centro Brasileiro de Estudos Estratégicos (CEBRES), Conselheiro da ESG e Professor aposentado de Economia na UERJ.

         Alguns leitores de nossos escritos indagaram qual a razão de não colocarmos mais na qualificação o título de Professor titular de Economia na Universidade Candido Mendes(UCAM). A razão é simples. Não pertencemos mais aos quadros da citada empresa privada desde fevereiro do corrente ano.

         Assumimos a função de professor na antiga Faculdade de Ciências políticas e Econômicas do Rio de Janeiro (FCPERJ), no dia 06.08.1971. Fomos galgando as etapas intermediárias, até que em 01.04.96 fomos promovidos a Professor Titular, após termos sido aprovados como titular em diversas disciplinas na citada Universidade, em diversos dos seus campos, junto ao Conselho Federal de Educação.

         Em paralelo, além do nosso trabalho no Banco do Brasil e na ESG, lecionamos em diversas outras Universidades, de onde saímos, ou a pedido (Morais Jr., UGF e outras) ou por aposentadoria (UERJ), com exceção das Faculdades Integradas Bennett, onde toda a diretoria foi demitida em função de razões políticas (exercíamos a direção do Curso de Economia). Fomos, ainda, chefe de departamento de Universidades, na esfera  privada como na  pública.  Nossa pós é em Administração Educacional pela UNIMEP.

         Fomos coordenadores de cursos de  extensão em Administração de Empresas na atual UCAM, lecionando aos sábados e domingos, durante vários anos, atingindo desde cidades próximas como Além Paraíba, Volta Redonda, Cabo Frio, Nova Friburgo, Campos, Três Rios, Itaperuna, até Muriaé, Caratinga, Coronel Fabriciano,  Monlevade, Itabira e Toledo (PR). Nos últimos quatro anos, fomos eleitos Paraninfo, Patrono e Homenagem Especial dos formandos em Economia da UCAM em diversas turmas.

         Acontece que, como estávamos há 34 anos na Universidade, recebíamos várias gratificações adicionais, como anuênios, gratificação de excelência, adicional de pós-graduação, titular da Praça XV (antiga sede da UCAM) e outras. Desta forma, o salário dos professores mais antigos é bem superior aos novos, chegando a atingir mais do que o dobro. Chegamos a ter 4 turmas, que foram reduzidas a 2, as quais foram diminuídas para uma, ao longo do tempo. No 2º semestre de 2005, ficamos cientes que a Administração  queria cortar custos. Dentre as medidas adotadas, a primeira era a continuação do que estava sendo feito, ou seja diminuir a carga horária dos professores mais antigos, por eliminação de turmas, substituição por outros docentes mais jovens, reforma de currículos com o objetivo de permitir a união de alunos de Economia, Administração e Ciências Contábeis, na mesma turma, por razões de economia. Assim, por exemplo, ao invés de pagar três professores, passou-se a remunerar apenas um. O Corpo Docente e o Discente reagiram, fazendo protestos, atos públicos e greve,  principalmente diante dos sucessivos atrasos no pagamento de salários, férias, 13º, não recolhimento do FGTS, desde 2001. Falava-se até que as contribuições para o INSS e o recolhimento do imposto de renda na fonte era descontado, mas não recolhido a quem de direito.

         Até que chegou a última arbitrariedade. Queriam reduzir a carga horária das disciplinas em 25%, com a conseqüente redução dos nossos salários também em 25%, mantido o mesmo conteúdo programático. Ou seja, os alunos continuariam a pagar o mesmo valor, haveria uma economia de, no mínimo, 25% com as despesas com o corpo docente e a Universidade manteria as aparências. A reação foi grande e até a antiga Diretoria e os Departamentos foram contrários. A administração foi dura e clara. Ou aceitavam ou iria ser implantada de qualquer modo. E foi o que aconteceu. No início deste ano, a antiga direção foi demitida, assumindo um grupo que já havia procedido a uma ação semelhante na unidade de Ipanema, tempos atrás. Muitos professores foram demitidos, mas dezenas sofreram uma violência pior denominada de “demissão branca”, a exemplo do ocorrido conosco.

         Em janeiro deste ano, recebemos, pelo Correio correspondência da UCAM informando que continuaríamos a lecionar a mesma disciplina (Desenvolvimento Sócio-Econômico), no mesmo horário do semestre anterior.

Entretanto, no primeiro dia de aula , dia 06.02, recebemos um telefonema do novo diretor da Faculdade, comunicando que havíamos ficado sem turma, pois não havia alunos em número suficiente, apesar de tratar-se de disciplina obrigatória, pertencente ao currículo mínimo. Além disto, como a Universidade não tinha condições de demitir-nos, pois não possuía recursos para pagar a multa de 40%, nem recolher o FGTS, atrasado desde 2001, a solução seria a solicitação por nossa parte de uma licença sem remuneração, por tempo indeterminado. Diante da nossa negativa, restavam duas alternativas. Ou recorrer à Justiça Trabalhista ou fazer um acordo. Fomos persuadidos a partir para este último, pois, de início, foi dito que uma ação deste tipo é para durar mais de 10 anos, sem poder movimentar a conta existente do FGTS recolhida até 2000. Além disto, o poder político e econômico do Reitor Candido Mendes é enorme. Basta verificar que tudo isto acontece há muito tempo e a mídia amestrada nada noticia. Afinal, ele é amigo de todos os presidentes da República e a UCAM é uma grande anunciante, apesar de não ter recursos para pagar suas dívidas. Porém, os possui para realizar obras suntuosas em suas instalações, pagar viagens de membros da Administração, empregar parentes e amigos em cargos de direção, com elevada remuneração, propiciar festas e banquetes nos restaurante de luxo existente no último andar do majestoso prédio de dezenas de andares e outras.

         Fizemos o acordo. Dividiram a rescisão em quatro parcelas mensais e a dívida do FGTS em oito. As duas primeiras foram pagas, com atraso. A terceira não. Fomos saber o que estava acontecendo e fomos informados de que os acordos não estavam mais sendo pagos. Fomos obrigados a ir à Justiça. A tradicional Candido Mendes deu lugar a uma feroz empresa capitalista.

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