A CRISE NO
TRANSPORTE AÉREO BRASILEIRO E A VARIG
Prof. Marcos Coimbra
Membro do Centro Brasileiro de Estudos Estratégicos
(CEBRES), Conselheiro da ESG e Professor aposentado de Economia na UERJ.
Artigo publicado em 01/01/2007 no Vila
em Foco
A VARIG
não é apenas uma empresa privada nacional. Ela foi administrada pela Fundação
Rubem Berta, que representava os funcionários da empresa. Sempre fomos
favoráveis ao neocapitalismo com a participação ativa
dos empregados no controle e na gestão das empresas onde trabalham. É o ideal
de um capitalismo moderno, onde os trabalhadores aumentariam seu poder,
estabelecendo um desejável meio termo, capaz de equilibrar as relações capital/trabalho. Além disto, a empresa era sinônimo do
Brasil no exterior, obtendo um resultado prático em sua atuação, não só em
relações públicas, como também no apoio a brasileiros no estrangeiro, superior
ao papel desempenhado por muitas embaixadas e consulados brasileiros.
Durante
décadas, a VARIG foi a maior empresa de navegação aérea do Brasil, realizando
um excelente trabalho, em especial na integração nacional e no turismo
internacional. Porém, sua gestão não foi das mais bem sucedidas. Houve excessos
em todos os campos, principalmente na tentativa de operar hotéis de alto luxo.
Centenas de políticos, artistas e “personalidades” amigas das eventuais
administrações recebiam passagens de cortesia. Os empregados usufruíam
de regalias, a nosso ver, que
todos os trabalhadores deveriam ter como exemplo, porém sem o devido cálculo
dos custos e das respectivas fontes de receita. Contratos danosos foram
concretizados. As diversas administrações da empresa não foram devidamente
competentes. Duramente atingida pelos “planos econômicos”, a VARIG teve uma
perda de mais de R$ 3 bilhões, já ganha nos tribunais
e recebida pela Transbrasil, mas não por ela, além do contencioso no plano
estadual.
O
inadmissível é verificar a “passividade” da atual administração Lula na busca
de uma solução para o problema criado. Todos os dias a imprensa divulga o drama
de centenas de pessoas desesperadas. Existe um processo diário de destruição da
VARIG. Ela foi vendida a um conglomerado, que, segundo os jornais, pertence a um
empresário estrangeiro. As concorrentes deitam e rolam, aumentando os valores
cobrados pelas passagens, direta ou indiretamente. É
evidente que não possuem estrutura para atender à demanda existente. Existe uma
obrigação de R$ 9 bilhões a ser encarada e milhares de
trabalhadores foram demitidos. O problema sério da previdência. Milhares de
aposentados ameaçados. E ninguém faz nada para ajudar a VARIG. É inexplicável,
considerando o passado recente (PROER, AES e outras pérolas), onde os recursos
públicos foram utilizados para socorrer até empresas estrangeiras
e ricos capitalistas. No futuro, talvez saibamos quais as verdadeiras
razões de tudo isto. É só verificar quem lucra com a situação da VARIG.
Logo
depois do trágico acidente do avião da Gol com o Legacy, começaram a surgir problemas de controle de vôo,
que nunca tinham aparecido até então, causando transtornos inimagináveis
principalmente aos passageiros. A ANAC, eficiente na contratação sem concurso
de “companheiros”, bem como na solicitação de passagens de cortesia, em
especial nos fins de semana, revelou-se inteiramente despreparada para resolver
o problema. E o caos aconteceu, sem previsão de solução.
No
ano passado, eu e minha mulher, resolvemos usar a milhagem do programa Smiles da VARIG a que possuíamos direito para realizar uma
viagem para Buenos Aires. De início, marcamos a data desejada, porém fomos
informados que o vôo tinha sido cancelado, devido a alteração da freqüência
diária, que passou de 4 para 1 por dia. Remarcamos
para dezembro. Minha mulher apostou comigo como não conseguiríamos
concretizá-la.
No
dia 16 de dezembro embarcamos no vôo RG 8612, às 14:45h, sem escala, chegando a
Buenos Aires, em torno das 17:15h. O vôo saiu na hora certa. A equipe de bordo,
como na antiga VARIG, atendendo com gentileza, eficiência e eficácia. O almoço
foi servido. Entrada, um prato principal de massa e sobremesa, acompanhada de
vinho tinto e branco argentino, de boa qualidade e whisky como aperitivo. Não
acreditei, mas era verdade. Retornei no tempo, recordando, com satisfação, a
época em que éramos bem tratados, quando viajávamos pela via aérea.
Passamos
cinco noites e
retornamos em 21.12. Ao chegar ao aeroporto de Ezeiza,
fomos informados de que o vôo da VARIG tinha sido cancelado e que teríamos que
embarcar em um avião da GOL, em horário semelhante,
mas com escala em Guarulhos. Começou
o inferno. Primeiro, a fila para receber o endosso. Depois a fila para marcar a
passagem, além das obrigatórias. O horário de chegada prevista no vôo da VARIG
original era 14:05h.
Pela Gol, como a saída atrasou cerca de 40min, era
para 14:40h. DE Buenos Aires para Guarulhos foi servido um pão com queijo e
presunto e um refrigerante. Em Guarulhos, ficamos quase uma hora, após o
embarque dos passageiros, devido a problemas de “sequenciamento”.
Ganhamos uma barra de cereal e mais um refrigerante. Acabamos chegando ao Rio
às 18:30h. Ficamos em um ônibus sem motorista por 30 min. Demoramos mais 30 min
para apanhar a bagagem. Que saudades dos tempos antigos!
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