A CLASSE MÉDIA E LULA
Prof. Marcos Coimbra
Membro do Centro Brasileiro de Estudos Estratégicos (CEBRES), Professor aposentado de Economia na UERJ e Conselheiro da ESG.
Correio eletrônico: mcoimbra@antares.com.br
Sítio: www.brasilsoberano.com.br (Artigo publicado
em 09.08.2007 no MM).
Recentes pesquisas realizadas após a tragédia aérea revelam que Lula continua com a mesma aprovação dos levantamentos anteriores, em média. Porém, caiu acentuadamente nas classes A e B. Ministros da atual administração reconhecem a rejeição de parcela significativa da classe média à Lula e anunciam que vão tentar recuperá-la, apesar de não precisarem dela para ganhar eleições. Quem financia as campanhas são os mais ricos, que, como reconhece Lula, nunca ganharam tanto na história desse país. Quem garante os votos necessários para a vitória é a classe mais pobre, dependente do poder público, através da concessão de medidas assistencialistas e clientelistas, como Bolsa Família. Mas, por que a classe média está indignada?
Lula foi eleito com base numa
proposta de oposição ao desgoverno FHC. Esperava-se a apresentação de um Plano
Nacional de Desenvolvimento destacando como meta o pleno emprego dos fatores de
produção (trabalho com justa remuneração), bem como a garantia da sobrevivência
dos nacionais, incluída a classe média neste rol. Entretanto, verificamos, com
preocupação, que as atuais autoridades monetárias deixam claro que a prioridade
um é o pagamento anual de cerca de R$ 160 bilhões de juros, em função da dívida
interna, além de bilhões de dólares de juros, remessa de lucros, dividendos
etc. Para isto, procuram tirar recursos de todos os lados para atender às
imposições dos especuladores. Um exemplo disto é a manutenção da idéia fixa, em
extorquir os servidores públicos, civis e militares, ativos e inativos, além de
privatizar a previdência pública. São verdadeiros
"carrascos".
Na
reforma da previdência feita por Lula, sob a alegação de que as contribuições
são inferiores ao dispêndio com o pagamento dos aposentados e pensionistas, houve
a taxação dos aposentados. Numa época de estipêndios congelados, porém de custo
de vida crescente, com impostos majorados, tal ato é uma violência inaudita. Na
investida contra o bolso dos servidores, principalmente dos aposentados, a
administração Lula investe mais ainda contra a classe média, por intermédio de
uma "reforma" tributária que objetiva manter a CPMF e a DRU
(Desvinculação das Receitas da União), por mais quatro anos ou então torná-la permanente. A classe mais pobre não
possui condições de pagar nada, enquanto a classe mais abastada é sempre isenta,
através das brechas da lei. A carga maior recairá sobre a classe média, como
sempre. A carga tributária atual é de cerca de 36% do PIB. Para a classe média,
proporcionalmente, é mais expressiva. E não há a contrapartida adequada de
serviços públicos (educação, saúde, segurança e outras).
Aposentadoria é instituto universal para
permitir que o trabalhador possa viver condignamente o final da vida, quando
lhe falecem as forças para o trabalho. Um ex-presidente do Supremo Tribunal
Federal (STF) foi enfático, ao declarar ao jornal "O Povo", de
Fortaleza: "O que posso dizer em tese, é que o Congresso pode elaborar as
emendas que desejar. Só que elas terão que respeitar direitos e garantias
individuais, que constituem cláusula pétrea. Vale dizer, constituem matéria que o poder constituinte derivado, instituído ou
de emenda, não pode alterar (art. 60, § 4o, VI), ou seja, emenda
constitucional não pode prejudicar direitos e garantias individuais, entre eles
o direito adquirido (art. 5°, XXXVI). E o artigo 60, § 4o,
IV, é taxativo: "não será objeto de deliberação a proposta de emenda
(constitucional) tendente a abolir: os direitos e garantias individuais ".
Mas não respeitaram. Lideranças do PT
informam que não existe "direito adquirido"e sim "expectativa de
direito".
Se
a Seguridade Social passa por dificuldades de caixa, muito se deve ao desvio de
suas receitas (COFINS, CSLL e outras) para garantia do superávit primário, como
também aos desmandos do passado, quando os sucessivos governos acabaram com as
reservas acumuladas durante dezenas de anos. Nunca os governos, ao longo do
tempo, pagaram sua parcela de contribuição. Somando-se a tudo isto o descalabro
dos Estados da Federação, não é difícil descobrir as causas da atual situação.
Há alguns que não reajustam seus servidores há mais de 10 anos. Nos municípios,
muitos criados artificialmente, sem condições de sobrevivência, a situação é
caótica.
Falcatruas contra a
previdência, que se transformaram em fortunas amealhadas e localizadas, são
tratadas no ritmo da lerdeza burocrática, quando não postergadas. Por que o
esforço principal em cima de aposentados com parcos salários, deixando de lado
os titulares de régias aposentadorias que pululam por cima de "leis
legais", outorgadas em conchavos legislativos?
No
rol dos incompetentes alinha-se também a oposição, incapaz de propor medidas
capazes de contribuir positivamente para evitar a concretização de tal crime,
apontando soluções alternativas factíveis. É uma oposição de francaria, só para constar, para fingir que existe
democracia no Brasil. Quando são eleitos, transformam-se de cordeiros em lobos.
A
solução principia pela escolha, nas próximas eleições, de candidatos que não
pertençam ao sistema corrompido que aí está, procurando nomes alternativos,
capazes de defender os ideais de um país soberano, com justiça e paz social, e
de lutar para eliminar a corrupção, o nepotismo e o aparelhamento partidário do
Estado que agridem a Nação, em todos os níveis.