Artigo publicado em 07.2006 no Vila em Foco
Prof. Marcos Coimbra
Membro do Centro Brasileiro de Estudos Estratégicos
(CEBRES), Professor de Economia aposentado na UERJ e Conselheiro da ESG.
Existem diferenças
acentuadas entre o estadista, o político e o demagogo. O estadista é o político
que, alicerçado em princípios, leis, teorias e doutrinas, possui um ideário político
e pensa não apenas no curto prazo, mas também no longo prazo, no futuro de
nosso país, no bem estar das novas gerações. Infelizmente, é figura rara nos dias
de hoje, no mundo inteiro. O político tradicional é aquele que pensa apenas em
sobreviver, visualizando somente o curto prazo, correndo atrás de verbas e
cargos para garantir a reeleição, sempre no poder,
seja qual for a ideologia e o partido. Troca de filiação partidária de acordo
com seus interesses, desde que permaneça ao lado do governo federal, estadual
ou municipal. E o demagogo é o político que, em busca da vitória, promete o
impossível, descumpre o prometido na campanha, pois busca apenas o poder pelo
poder, ultrapassando o político tradicional no quesito "engano à
população". Numa análise rápida, é possível para o
leitor mais atento qualificar os atuais detentores de cargos políticos, em uma
das categorias acima mencionadas.
O atual
"espetáculo" proporcionado pelos nossos "políticos" é de
estarrecer. A troca desenfreada de partidos, o esquecimento das bandeiras
defendidas no passado, alianças espúrias efetivadas, o clientelismo
desenfreado, o assistencialismo enganoso, o nepotismo desvairado mostram o
baixo nível de cultura política existente. Ao procurarmos, por exemplo, quem
está sempre no comando no Senado, identificamos os senadores Renan Calheiros
e Romero Jucá. Recordamo-nos de que sempre estiveram no poder. O primeiro, de
tradicional família alagoana, serviu a todos os presidentes da República, desde
Fernando Collor,
em postos de destaque. Chegou a ser líder do governo, ministro da Justiça de
FHC e, agora, presidente do Senado. O segundo, que também foi ministro, tem
suas origens políticas
no período militar, destacando-se sempre pela defesa
intransigente de qualquer governo, seja FHC ou Lula. São modelos de incoerência
ideológica. Apenas, não por coincidência, são hoplófobos
assumidos.
A razão
verdadeira de procedimentos como o exposto está na busca de verbas, cargos e nomeações
para garantir a reeleição ou posições mais prósperas. Verificamos a diminuição
das bancadas do PSDB, do PMDB e do PFL e o "inchaço" das bancadas
aliadas do governo, em especial do PL e do PTB, enquanto o PT procura
preservar-se. Ora, os distintos chefes políticos tradicionais não estão
enxergando um palmo a frente. O PT, ao ganhar a eleição para a Presidência da
República, obteve o poder de nomear dezenas de milhares de integrantes de seus
quadros partidários para os principais cargos de comando no país. Para os
partidos aliados está oferecendo "migalhas". O PMDB, então, está
engajado no apoio a todas as "reformas", altamente desgastantes, por
conta de promessas.
Nas eleições municipais de 2004 a meta
do PT era a de conquistar cerca de 1.000 prefeituras.
Ainda bem que não conseguiram. Seriam mais dezenas de milhares de cargos para
os seus quadros políticos. Aliando-se a isto o poder da mídia, quase que
inteiramente dependente das concessões públicas e das verbas publicitárias
provenientes em especial da administração federal, encontramos um cenário
preocupante. Apesar das diversas correntes que abriga, o PT adota o centralismo
democrático modelo cubano e sabe impor a sua vontade aos eventuais
contestadores. Se este panorama for concretizado, com a continuação da
"eleição eletrônica" nos viciados moldes atuais e com o controle da
maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal nomeados, estarão criadas as
condições para o surgimento de um rolo compressor nas eleições deste ano,
garantindo não só a reeleição de Lula, como a conquista da maior parte das
administrações estaduais. Serão mais dezenas de milhares de quadros partidários
nomeados para cargos de confiança, fechando a teia de aranha. E é bom não
esquecer o dízimo. A arrecadação do PT com a cobrança da
contribuição partidária compulsória o tornará o partido mais forte da
América Latina. Em paralelo com o crescente esvaziamento dos demais, em virtude
principalmente do fisiologismo, em mais três anos, não necessitará mais do
apoio de outro partido, pois será forte o suficiente para governar sozinho.
Estarão
criadas as condições para a implantação de um partido único, de fato, sectário,
radical, perseguidor dos que não pensam como eles, conforme já está ocorrendo
nas principais estatais brasileiras, permitindo-se a sobrevivência de
alguns, apenas para afirmação da falácia de que vivemos em uma democracia, a
exemplo do passado, com a Arena e o MDB. Será que os ilustres dirigentes
partidários de outros partidos não estão percebendo o perigo que estão
correndo? A única saída é a união de todos, em torno de um projeto democrático,
para evitar a ditadura de fato, enquanto é tempo. Na realidade, como na estória
do ovo com o bacon, na sociedade entre os porcos e as galinhas, estão entrando
com o bacon, enquanto o PT fornece os ovos.
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