A CAMINHO DA DITADURA CIVIL
Prof. Marcos Coimbra
Membro do Centro Brasileiro de Estudos Estratégicos (CEBRES), Professor aposentado de Economia na UERJ e Conselheiro da ESG.
Artigo publicado em 17.05.2007 no Monitor Mercantil.
Escrevemos neste espaço, já por diversas vezes, que os políticos tradicionais ainda não entenderam o risco enfrentado. Pensam ingenuamente que lidam com outro partido semelhante, disposto a aceitar a rotatividade no poder. O PT não possui um projeto nacional de desenvolvimento, mas sim um projeto de poder. Mesmo antes de assumir o governo, eles possuíam o melhor serviço de inteligência do Brasil. Quem não se lembra da atuação dos petistas na oposição? Eram implacáveis. O denuncismo imperava. Os pedidos de impedimento também. Até procuradores, que ficaram famosos e agora desapareceram, vazavam para a imprensa informações confidenciais extraídas de investigações, inquéritos e bancos de dados bancários e financeiros.
Após o primeiro mandato de Lula, os adversários dos petistas foram sendo cooptados, através dos meios aéticos noticiados fartamente pela imprensa. O procurador-geral da República formalizou séria denúncia contra cerca de 40 indiciados. Ninguém está preso. Nem 10% dos envolvidos foram cassados. O plenário da Câmara absolveu agora vários deputados, com o pueril argumento de que tinham sido absolvidos pelo voto popular, isto em um sistema proporcional de eleição, onde poucos são eleitos sem o auxílio da legenda! Agora, querem cassar o deputado Clodovil por ter chamado de feia uma colega desconhecida, que o provocou até conseguir o desejado: um pretexto para início de um processo para eliminar o elemento estranho ao sistema. E, ainda mais, especialista em comunicação e sem papas na língua.
Não existe oposição de fato no país. Apenas, nos extremos, o DEM e o PSOL, sem vontade ou estrutura para aproveitar as fartas vulnerabilidades da atual administração. O PSDB é a outra face da mesma moeda. Lula foi eleito em 2002 com a cumplicidade de FHC. Como ele já havia implantado o perverso mecanismo da reeleição que o beneficiou diretamente, bem como a Lula, estão permitindo a manutenção do receituário neoliberal por 16 anos, no mínimo, com a progressiva deterioração da soberania nacional. E com sério risco de perda concreta do controle da Amazônia, já loteada por intermédio de proposta de iniciativa do poderoso ex-chefe da casa civil, agora cassado. Quase todos os grandes “negócios” realizados no país, em especial nas áreas de comunicação e aérea, possuem as digitais dele e de seus “cumpanheiros”.
Lula trabalha com várias opções para perpetuação no poder dos vetores exógenos que nos governam. De início, a mudança na Constituição, a exemplo de Chávez, e futuramente Correa e Morales, que permita a reeleição sem limites. Ou a aprovação do parlamentarismo, com ele como primeiro-ministro. Ou a prorrogação do mandato em um cenário de decretação do estado de emergência. Ou no limite, a eleição em 2010 de um clone, como Serra, Aécio ou outro qualquer, para o retorno triunfal em 2014. Afinal, o antigo Núcleo de Estudos Estratégicos traçou cenários, em 2002, “por coincidência”, para 2007 até 2022 (bicentenário da Independência).
Até o Papa Bento XVI já denunciou a onda de totalitarismo existente na América do Sul. Os meios de comunicação estão à mercê das verbas governamentais, do sistema financeiro e das empreiteiras. Os artistas sobrevivem das verbas das estatais, como PETROBRAS, CEF, BB e outras, recebendo milhões para produzir peças sem valor cultural e sem público, mas que falam aquilo que os detentores do poder desejam que a população escute. As Instituições que poderiam impedir a implantação de uma ditadura civil estão sendo erodidas progressivamente. O Congresso foi cooptado pela distribuição de verbas orçamentárias, pelas vagas abertas por quase 40 ministérios para nomeação de apaniguados e por outros meios não ortodoxos.
O Judiciário manietado pela criação do Conselho Nacional de Justiça, pelo fato concreto de já possuir mais da metade dos integrantes de sua mais alta Corte nomeada por FHC e por Lula e sob pressão permanente da imprensa, a reboque da existência de alguns magistrados envolvidos pela onda de corrupção que assola o país. As Forças Armadas em dramática situação de penúria, sem verbas para investimento ou sequer para as despesas de manutenção, acuadas por campanha permanente de descrédito promovida pelos inimigos da democracia e desviada de suas verdadeiras funções. A Igreja profundamente infiltrada pelos “socialistas autoritários”. A Família em crise permanente, exposta à contaminação empreendida por alguns meios de comunicação, propagadores de vícios, perversões e estimuladores da desagregação. O Itamaraty aceita as mais absurdas imposições do “cocalero”.
Um embrião da futura Gestapo, a Força Nacional de Segurança, começa a ser implantada, com o objetivo de atuar na Segurança Interna, além da Segurança Pública. A Globo será substituída em seu papel de órgão oficial de propaganda das sucessivas administrações federais pela TV pública. Também será descredenciada no futuro, a exemplo da RCTV na Venezuela. Este é o grande mal dos capitalistas selvagens. Só pensam no lucro fácil, não enxergando nem o médio prazo, enquanto os comunistas dão as migalhas, mas perseguem o longo prazo.
É chegada a hora de os verdadeiros democratas unirem-se para recuperar a pátria perdida, passando da palavra à ação.
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