VERDADEIRA ECONOMIA DE CEMITÉRIO
Artigo publicado em 24/11/2016 - Monitor Mercantil
Economista
Marcos Coimbra
Professor,
Assessor Especial da Presidência da ADESG, Membro do Conselho Diretor do CEBRES,
Acadêmico fundador da Academia Brasileira de Defesa e Autor do livro Brasil
Soberano.
A expressão economia de cemitério é de autoria do
nosso falecido amigo e colega Prof. Adriano Benayon,
doutor em Ciências Econômicas pela Universidade de Hamburgo. Estamos
apropriando-nos dela, por representar muito bem o drama vivenciado pelos
brasileiros nos dias de hoje. Já amargarmos uma recessão por dois anos
sucessivos, com nosso PIB caindo para a nona posição mundial. A renda real dos
trabalhadores decresce acentuadamente, a indústria sofre quedas sucessivas a
cada período de tempo e o desemprego avança. Oficialmente são 12 milhões de
desempregados, mas segundo o Prof. Ricardo Bergamini, “no 3º trimestre de 2016, a taxa composta
da subutilização da força de trabalho (que agrega a taxa de desocupação,
taxa de desocupação por insuficiência de horas e da força de trabalho
potencial) ficou em 21,2%, chegando a 22,9 milhões de pessoas.” Não
conhecemos qualquer segmento da economia real que esteja satisfeito, além do
"agronegócio", que continua a resistir bravamente, não sabemos até
quando. É óbvio sem considerar o sempre lucrativo segmento financeiro. O país
pagou cerca de R$ 500 bilhões de juros da dívida pública em 2015 e a taxa real
de juros continua acima de 6%, a maior do mundo, com uma taxa Selic de 14%.
Isto retarda o processo de retomada do processo de crescimento
econômico, a fim de que possamos depois voltar a sonhar com o esperado
desenvolvimento econômico. Em todas as camadas da população, dos níveis mais
baixos de renda até aos mais elevados, a queixa é a mesma, guardadas as devidas
proporções. Não há dinheiro, não há emprego, com exceção do setor financeiro,
onde existe recursos, mas aumenta o número de demissões.
Muitas
pessoas equivocam-se em imaginar que a Economia é uma ciência fria, desumana,
interessada em perpetuar as condições existentes de desigualdade, seja a nível
pessoal, regional ou setorial. Isto é explicado, em parte, pela maciça
divulgação pelos meios de comunicação de massa dos postulados do "globaritarismo" (totalitarismo da globalização), ou
seja, do neoliberalismo. Sua própria conceituação caracteriza-a como ciência
social, cujo grande objetivo é a maximização da função de interesse coletivo da
comunidade, aproximando-se assim do conceito do Bem Comum, ideal de convivência
capaz de, ao mesmo tempo em que assegure a busca do bem-estar, construa uma
sociedade onde todos tenham condições de plena realização de suas
potencialidades e do exercício constante de valores morais, éticos e espirituais.
Desta
forma, o principal objetivo de um sistema econômico deve ser o de garantir o
pleno emprego dos fatores de produção, ou seja, proporcionar trabalho a todos
os componentes da população economicamente ativa (PEA), em torno de 90 milhões
de pessoas, com plena utilização própria dos nossos vastos
recursos naturais. E, no Brasil, tudo isto é perfeitamente factível.
Como? Basta, de início, diminuir a sonegação em 30%, o que provocará recursos
adicionais da ordem de centenas de
bilhões de reais a serem investidos na infraestrutura econômica e social,
procurando fazer retornar assim a formação bruta de capital fixo a 25% do PIB.
Em seguida, diminuir expressivamente a imoral taxa de juros ainda em vigor.
Desta forma, serão ativados os setores de energia, transportes, comunicações,
saúde, saneamento básico, educação, segurança, ciência e tecnologia.
Garantidos
os recursos, vamos verificar o que pode ser feito na área social. Inicialmente,
a garantia de que o país, voltando a crescer 7% ou 8% ao ano, aumente a
produção, a oferta agregada, gerando mais empregos, seja no setor terciário, o
qual no terceiro milênio será o grande absorvedor de mão de obra, seja no
estímulo às atividades do "agro business", acoplando o setor
secundário ao setor primário. Desta forma, aumentando a oferta de trabalho,
havendo mais equilíbrio entre oferta e demanda de emprego, melhorando a
qualidade dos postos de trabalho, os salários serão maiores, proporcionando o
crescimento do mercado interno, provocando maior incremento da produção
interna, tradicional absorvedora de mão de obra. Este é o ciclo virtuoso do
desenvolvimento. Não o que o banqueiro Meirelles, atual ministro da Fazenda,
prega.
E o
segredo do desenvolvimento está justamente na qualidade dos recursos humanos,
em especial na garantia de uma sólida educação básica, realmente formadora,
capaz de propiciar a profissionalização daqueles que desejarem e, em paralelo,
um ensino superior voltado para a pesquisa, em consonância com os anseios da
comunidade, pois hoje mais do que nunca o mais importante é o capital humano. E
somente uma população verdadeiramente habilitada é capaz de libertar-se da
opressão dos mais ricos e assegurar o pleno desenvolvimento do Brasil. A
receita é justamente a contrária à empregada pelas recentes administrações, ou
seja, sacrificar a população, por intermédio de "reformas" de caráter
confiscatório, que irão provocar a queda da renda pessoal disponível real e, em
consequência, do consumo das famílias, a fim de continuar a privilegiar o segmento
rentista. Infelizmente, a atual administração parece incorrer no mesmo erro dos
seus antecessores. Não é assim que serão resolvidos os problemas do Brasil. A
proposta de reforma da previdência, por exemplo, caso aprovada, provocará a
vitória de qualquer força política que estiver na oposição, possibilitando até
o retorno dos petistas. O povo não aguenta mais pagar a conta do andar de cima.