RECEITA DO BOLO
Artigo publicado em 13/08/2015
- Monitor Mercantil
Economista Marcos Coimbra
Professor, Membro do Conselho Diretor
do CEBRES, Acadêmico Fundador da Academia Brasileira de Defesa e Autor do livro
Brasil Soberano.
Em
todos os diversos cenários elaborados por especialistas analisando a conjuntura
nacional, apesar de divergentes em muitos aspectos, existe uma constatação. A
ausência de um Plano Nacional de Desenvolvimento (PND) por parte dos diversos
atores em condições de assumir ou permanecer no poder. Há o rumor de que o
sistema FIESP/FIRJAN teria um projeto pronto, mas, caso exista, peca pelo fato de
não ter sido apresentado para colheita de sugestões e submetido ao conhecimento
público.
E o Brasil necessita urgentemente de um PND capaz de
contemplar os aspectos econômicos e sociais com eficácia, sob
pena de tornar-se inteiramente ingovernável em curto espaço de tempo.
Apresentamos a seguir uma “receita do bolo” como sugestão para quem de fato
pretende levar o país a sério.
O Plano deve ser
feito por especialistas brasileiros (e os temos em qualidade e quantidade
satisfatórias), com base nos anseios, necessidades e desejos da população,
alicerçados na filosofia, doutrina, ideário e teoria adequados para seus
formuladores, analisando-se a situação internacional e a situação nacional,
levantando as necessidades básicas (carências que devem ser atendidas) e
estudando-se os óbices existentes.
Avaliando-se a capacidade do Poder Nacional, chegamos à
concepção política nacional, desdobrada em três estágios: definição dos
pressupostos básicos (condicionantes ou crivos éticos e pragmáticos),
formulação das hipóteses de conflito e de guerra e o de decisão política,
correspondente à escolha do cenário desejado, do qual decorrem os Objetivos
Nacionais Atuais e os Objetivos de Governo.
A seguir, partimos
para a fase estratégica, desenvolvida através de quatro etapas encadeadas: a de
concepção política nacional, elaboração do plano, execução e controle. A
concepção estratégica nacional abrange três fases: a de análise de trajetórias,
a de opção estratégica e a de diretrizes estratégicas. Tudo isto englobando os
aspectos setoriais, regionais e específicos, bem como os três níveis (federal,
estadual e municipal), vinculados aos orçamentos (prioridades, prazos e
recursos), com atribuição de competências e de encargos. Estes são os passos a
serem seguidos, na teoria.
Na prática, torna-se
evidente a imperiosa necessidade de que, em toda ocasião de eleição todos os
postulantes à presidência da República, em especial, apresentem seus
respectivos planos, com transparência, para que o eleitorado não seja mais uma
vez enganado, como na última campanha, quando foi cometido o maior “estelionato
eleitoral” da história. Também é evidente a carência de um plano que não se
restrinja a perseguir como principal objetivo o controle da inflação, mas sim
que apresente como "variável-meta" a busca do pleno emprego dos
fatores de produção e o pagamento de salários dignos, com a utilização mais
eficaz das "variáveis-instrumentais": taxa
cambial (supervisão cerrada pela autoridade econômica), tributos (através de
reforma fiscal capaz de diminuir alíquotas, minimizando a sonegação e aumentado
a arrecadação), controle do saldo do balanço de pagamentos (imposição de
barreiras protecionistas, redução dos tributos que oneram as exportações),
redução da taxa de juros e outras, objetivando aumentar o mercado interno,
fortalecendo as empresas nacionais, em especial o segmento das micro, pequenas
e médias empresas, gerando mais empregos e aumentando a oferta de bens,
minimizando as disparidades de renda (pessoal, regional e setorial).
Contudo, analisando a conjuntura, identificamos que, na
realidade, tal não ocorreu. O PT não possui um plano de governo, mas sim um projeto de
poder. Também todos os possíveis atores candidatos a assumir o poder, apresentados
pela mídia, não possuem nem um simulacro de Plano.
O que dizer da perpetuação,
sem qualquer contestação, da mais elevada taxa real de juros existente no
mundo, o que ocasiona uma vultosa dívida interna, além do pagamento de cerca de
R$ 400 bilhões de juros no ano corrente?
O passivo externo ultrapassa a impressionante marca de US$ 1,5 trilhões. A Petrobras está sendo privatizada
sub-repticiamente. A manutenção dos
impostos "em cascata" inibe a atividade produtiva. O PT volta até a
defender o retorno da CPMF. Persiste o
pesado ônus em programas assistencialistas, clientelistas e eleitorais
com o objetivo de manter-se no poder. O BNDES continua a financiar, sem a
devida garantia de retorno, obras faraônicas em nações “companheiras”,
subtraindo recursos valiosos, os quais deveriam ser aplicados no Brasil, em
benefício de nossa população. A corrupção endêmica corrói a autoestima
nacional. E a fonte de recursos parou de
jorrar moeda. A cornucópia entupiu. Não é possível mais continuar a produzir
“pedaladas”. O povo despertou para a dura realidade.
De fato, a Nação deseja mudanças substantivas e não
meramente adjetivas, com a alteração do perverso modelo a que estamos
submetidos, quando a classe rica fica cada vez mais abastada, a classe
média é destruída progressivamente e os mais pobres são enganados por medidas
populistas, ao invés de terem a oportunidade devida de trabalho digno assegurada.