PESQUISAS E ELEIÇÕES

Artigo publicado em 02.10.14-MM

Economista Marcos Coimbra

Professor, Membro do Conselho Diretor do CEBRES, Titular da Academia Brasileira de Defesa e Autor do livro Brasil Soberano.

         Não é apenas hoje que existe uma acirrada discussão sobre a influência das pesquisas nas eleições. Uma corrente afirma que as pesquisas apontam o resultado de quem as paga e possui a principal finalidade de induzir a grande massa indecisa de eleitores a escolher o candidato que está à frente. Outros estudiosos defendem a tese de que qualquer pesquisa apresenta apenas o retrato do momento em que é realizada. Existem países, inclusive, em que é proibida a divulgação de pesquisas em determinados períodos do processo eleitoral.

A história recente mostra alguns erros eleitorais graves listados no blog do amigo e colega Lago Neto, http://lagoneto.com.br/, baseado na fonte http://www.parlamentopb.com.br/artigo.php?id=451, através de pesquisa feita pelo Prof. Gilson Gondim. Destacamos como principais: 1-1985-A boca de urna do Ibope dá como eleito prefeito de Fortaleza o deputado federal peemedebista Paes de Andrade, mas quem vence é a petista Maria Luiza Fontenelle; 2-1990- Na Paraíba, o Ibope dava como vitorioso no primeiro turno, na eleição para governador, o candidato Wilson Braga, da coligação PDT/PFL. Braga não fechou a eleição no primeiro turno e perdeu na segunda rodada para Ronaldo Cunha Lima (PMDB); 3- 1992- Na Grã-Bretanha a boca de urna dava a vitória dos trabalhistas. Ganham os conservadores; 4- 2004- Nos Estados Unidos, a boca de urna dava John Kerry como vencedor. Ganha Bush; 4- 2006- No Brasil, na véspera da eleição presidencial, o Sensus dava Geraldo Alckmin (PSDB) com 27%. O Vox Populi o mostrava com 33%. Ele teve 42%; 5- 2008- O primeiro lugar de Gilberto Kassab no primeiro turno para prefeito de São Paulo surpreendeu a todos, inclusive ao Datafolha, que errou o percentual de Kassab acima da margem de erro, que era de dois pontos percentuais, tendo Kassab ficado 2,6 acima do previsto.

         Quais as razões de tantos erros de porte? De início, há o intervalo de confiança, que normalmente é de 5%, ou seja, a pesquisa tem uma chance em vinte de estar errada, além das margens de erro, em geral de 2%, mesmo que não haja erro, tampouco má-fé. A seguir, as pesquisas possuem às vezes falhas técnicas, não refletindo com exatidão as diversas variáveis relevantes (nível de renda, sexo, faixa etária, escolaridade, local de moradia etc.). Também, níveis diferenciados de abstenção e de anulação involuntária de votos frequentemente não são captados pelas pesquisas. E, finalmente, há “pesquisas” feitas com o objetivo de ajudar determinado lado na motivação da militância, dos doadores e dos próprios eleitores.

         Lembramos, por oportuno, as eleições para prefeito do município do Rio de Janeiro em 2000, quando as pesquisas, às vésperas das eleições apontavam a vitória de Conde sobre César Maia, por 36% a 18%, com realização de segundo turno. No final, Maia venceu no segundo turno, por pouco mais de setenta mil votos, apesar da diferença de 18% existente no primeiro turno, fato que segundo muitos analistas inviabilizaria as pretensões de César. Também o ridículo episódio de FHC sentando na cadeira de prefeito de São Paulo, com certeza da vitória, às vésperas do pleito. Após as eleições, o vencedor Jânio Quadros desinfetou a cadeira.

         Assim, para nós, as pesquisas atuais não apresentam grau satisfatório de confiabilidade, como também o processo eletrônico de apuração de votos sem impressão do comprovante impresso é extremamente vulnerável. Adicionando-se a isto o emprego maciço da máquina pública, as agressões cometidas abaixo da linha de cintura, até proibidas em uma disputa de MMA, a disparidade gritante de recursos, a começar pelo horário eleitoral, a escancarada utilização dos privilégios do cargo de presidente para alavancar a campanha à reeleição, com a passividade da justiça eleitoral, a ausência de uma proposta decente de administração do país por parte da candidata apontada como a mais bem pontuada, as perspectivas não são alvissareiras para o país.

Porém, como é muito provável a realização do segundo turno, isto significa uma nova eleição. Esperamos que, até lá, os dois candidatos que permaneçam tenham tempo de apresentar um Projeto decente para o país e que as grandes questões nacionais sejam debatidas com profundidade, ao invés do debate estéril sobre assuntos irrelevantes, mas valorizados por minorias ativas e turbinadas por verbas públicas, profundamente autoritárias, ansiosas por impor suas aspirações à maioria da população, avessa às suas práticas. Vamos combater a corrupção e lutar para recuperar o país perdido. Chega de incompetência e radicalismo ideológico!

Correio eletrônico: mcoimbra@antares.com.br

Página: www.brasilsoberano.com.br