PENSANDO O LONGO PRAZO

 

Artigo publicado em 30/06/2016 - Monitor Mercantil

 

Economista Marcos Coimbra

Professor, Assessor Especial da Presidência da ADESG, Membro do Conselho Diretor do CEBRES, Titular da Academia Brasileira de Defesa e Autor do livro Brasil Soberano.

Um país precisa de planejamento (racionalização do processo de tomada de decisões) para poder atingir seus principais Objetivos Nacionais (ON): Progresso, Soberania, Paz Social, Integração Nacional, Integridade do Patrimônio Nacional e Democracia. E, em especial, de um planejamento a longo prazo, a fim de que o futuro do país e de nossos descendentes seja satisfatório. Como afirmamos em artigo anterior, poucas Instituições debruçam-se sobre o estudo do futuro. Uma delas é a Escola Superior de Guerra (ESG), a qual congrega civis e militares, oriundos de todos os rincões do país, para diagnosticar os problemas existentes e propor as políticas e estratégias adequadas para a consecução dos nossos objetivos.

 Lamentavelmente, existem grupos e pessoas, atualmente com muito poder político, interessados em eliminá-la, ou direta ou indiretamente. Acabar com a ESG foi tentado, mas não foi felizmente concretizado. Procuraram então anulá-la, alterando seus objetivos, sua estrutura, sua filosofia. As propostas anteriormente apresentadas ao Congresso para modificar a Lei de sua criação, caso aprovadas, transformariam um dos poucos centros de altos estudos, apartidário, que reflete, pensa, planeja e propõe rumos para o Brasil do futuro em mais uma fábrica produtora de mestres e doutores, como tantas existentes no país. Apenas, voltada para a Defesa Nacional. Felizmente, resistimos e, se não conseguimos tudo aquilo desejado, evitamos o cenário mais hostil.

Ora, segundo a antiga Doutrina da Escola Superior de Guerra, "Defesa Nacional é o conjunto de atitudes, medidas e ações adotadas, com a utilização do Poder Nacional, para superar as ameaças de origem interna ou externa, que se manifestem ou possam manifestar-se contra os Objetivos Nacionais Permanentes". Já a "Segurança Nacional é a garantia relativa, para a Nação, da conquista e manutenção dos seus Objetivos Permanentes, proporcionada pelo emprego do seu Poder Nacional". Ou seja, é um conceito mais amplo, que abrange o anterior. Mas, hoje em dia, é praticamente proibida de ser mencionada, graças a um feroz patrulhamento ideológico. É a ditadura do “politicamente correto”.

O Desenvolvimento Nacional caracteriza-se pelo aperfeiçoamento do Homem, da Terra e das Instituições, os chamados elementos básicos da nacionalidade, nas cinco expressões do Poder Nacional: política, econômica, psicossocial, militar e científica e tecnológica. Ele abrange não só a expressão econômica do Poder Nacional, como também as outras quatro expressões do Poder.

A diferença entre os conceitos de crescimento econômico e desenvolvimento econômico é a seguinte: o crescimento econômico caracteriza-se por um aumento quantitativo na produção de bens e serviços, graças à atuação de um ou de dois fatores de produção preponderantes, geralmente capital e tecnologia, expresso, por exemplo, pelo aumento do Produto Interno Bruto (PIB). Já o desenvolvimento econômico é caracterizado por um aumento, não só quantitativo, como também qualitativo, em função da participação harmônica de todos os fatores de produção, consubstanciado por um processo de transformação social, com o progressivo deslocamento da mão-de-obra do setor primário para o setor secundário e para o setor terciário, expresso, por exemplo, pelo crescimento do PIB, com minimização das disparidades de renda.

Segurança e Desenvolvimento são processos que, caso sejam bem sucedidos, levarão o Brasil a atingir os estados de Ordem e Progresso, não desejado por alguns tresloucados fanáticos que apenas pensam em destruir ou então por maus brasileiros, traidores da Pátria, a soldo de grupos ou nações estrangeiras. De fato, não existe Desenvolvimento sem a garantia de sua continuidade, representada pela Segurança. E o Desenvolvimento contínuo permite minimizar as razões de insegurança. Nos tempos atuais, as guerras, ou seja, conflitos bélicos, são resultantes de conflitos econômicos, psicossociais, científico-tecnológicos e políticos.

Os últimos 30 anos foram terríveis para o Brasil. Na falta de um planejamento próprio, utilizamos propostas alienígenas, preparadas com competência, objetivando manter o país na triste situação em que se encontra. O endividamento excessivo, o brutal processo de transferência de renda do setor produtivo para o segmento financeiro, a privatização selvagem, o desarmamento do cidadão honesto, a crescente destruição das Instituições Nacionais, o desmantelamento do Estado com sua substituição por ONG's, a "balcanização" do país com a imposição externa de demarcação de terras indígenas, o crescente desemprego, a diminuição progressiva da renda real dos assalariados, pensionistas e aposentados, a corrupção desenfreada, a crueldade com que as elites políticas  tratam o povo, a extinção da classe média, e o pior, a desesperança, são demonstrações claras da estratégia empregada pelos "donos do mundo" para impedir o Brasil de atingir o patamar dos países desenvolvidos.

É dramático verificar que a nossa geração recebeu de nossos ascendentes uma Nação próspera, em processo de desenvolvimento, soberana, com esperança no futuro e está passando para nossos descendentes uma Nação estagnada, pobre, cada vez mais dependente, com grave concentração de renda, sem futuro.