OS ESCRAVOS MODERNOS

 

Artigo publicado em 06/04/2017 - Monitor Mercantil

 

Economista Marcos Coimbra, Professor, Assessor Especial da Presidência da ADESG, Membro do Conselho Diretor do CEBRES, Acadêmico fundador da Academia Brasileira de Defesa e Autor do livro Brasil Soberano.

A escravidão sempre foi uma das grandes tragédias da humanidade. E isto, infelizmente, aconteceu na antiguidade em toda a face da Terra e ainda existe, apesar de todos os esforços para impedir tal ignomínia. Ainda há a escravidão mascarada, em algumas regiões do mundo, inclusive no Brasil, onde seres humanos são submetidos a tal prática, sem quaisquer direitos, nas mais adversas circunstâncias, sem a devida contrapartida.

Contudo, há outras formas de escravidão de natureza indireta, na maioria das vezes nem percebida pelos que são escravizados, de fato. Os “donos do mundo” (grupos que controlam o sistema financeiro mundial e seus instrumentos como o Clube de Roma, o Diálogo Interamericano etc.) comandam os destinos da população mundial. Como são os detentores do poder econômico, cooptam os meios de comunicação mais influentes do mundo, pautando grande parte da mídia e influenciando decisivamente grande parte da humanidade. Não por acaso elegem seus representantes (de sociedades secretas ou até ostensivas, como o Diálogo Interamericano, no caso das Américas) para os principais cargos dos Poderes Executivo e Legislativo, além de influenciar expressivamente o Judiciário.

         É comum emplacar seus integrantes até na presidência da República, como foi na Argentina (Raul Alfonsín), Brasil (FHC e Lula, que entrou e saiu), Uruguai (Sanguinetti), Colômbia (Juan Santos), Chile (Michele Bachelet) etc. Até o ministro da Fazenda, Sr. Henrique Meirelles, bem como Marina Silva são integrante do Diálogo. Somente possuindo estas informações é que somos capazes de compreender o comportamento esquizofrênico das últimas administrações, em especial as petistas.

         Na expressão econômica, a administração é inteiramente submissa aos interesses da banca internacional e nacional, com a adoção de medidas tão radicais como a taxação dos inativos e o aluguel de imensas áreas da Amazônia, tentadas, mas não concretizadas por FHC, mas realizadas pelos petistas e pela administração atual. Nas expressões psicossocial e política adotaram medidas preconizadas pelo Foro de São Paulo, de perpetuação no poder, admitindo ainda a ação predatória de movimentos como o MST, MLST e outros, sem a devida instalação de instrumentos preventivos.

         As classes mais abastadas acumulam cada vez mais riquezas, em especial os bancos usufruindo “alegremente” das vantagens obtidas, enquanto as categorias menos favorecidas são obrigadas a entrar na informalidade, expandindo a economia subteerrânea e recebendo o bolsa esmola”. Os bancos nunca ganharam tanto em sua “estória”.

A sempre sacrificada classe média, em extinção, acaba transformando-se em produtora dos novos escravos.  Nascem, vivem e morrem dentro os rígidos limites impostos pelos detentores do poder, com raras exceções. O sistema tributário é uma vergonha. Quem ganha muito não paga, com o emprego do “planejamento tributário”, enquanto um cidadão que ganha pouco menos de três salários mínimos (SM) mensais é obrigado a pagar. Em 2016 a carga tributária aumentou para algo em torno de 36 % do PIB. Ao mesmo tempo, os serviços públicos estão sendo deteriorados a cada dia (educação, saúde, segurança, saneamento etc.) e vão sendo progressivamente transferidos para a iniciativa privada.

 Até a previdência pública vai sendo quebrada para dar espaço à previdência privada. Internamente, é apresenta a inacreditável proposta (a não ser para os usuários) da descriminalização das drogas, felizmente objeto de forte reação por parte das forças vivas da Nação.        O ensino público vai sendo brutalmente esvaziado, em especial com o sistema de cotas e outros instrumentos para o segmento privado, dando lugar a fábricas produtoras de diplomas, “formando” profissionais de baixa qualificação. A maioria dos empregos gerados apresenta remuneração inferior a 2 SM e o desemprego, o subemprego quantitativo e qualitativo alcançam mais de 24 milhões de pessoas. Os cidadãos acordam todos os dias, trabalham exaustivamente, formal ou informalmente, sendo extorquidos de todos os modos, direta ou indiretamente, pelo poder público ou então pelos marginais. Como não conseguem chegar até o fim do mês com seus parcos rendimentos, endividam-se cada vez mais, acumulando dívidas impossíveis de serem pagas. Os escravos antigos trabalhavam duramente, mas tinham pelo menos casa e comida garantida. Os escravos modernos também trabalham duramente e nem isto conseguem obter.

A administração atual quer implantar uma reforma previdenciária inaceitável. A “terceirização” provocará consequências catastróficas ao trabalhador. A reforma trabalhista representa o tiro de misericórdia. O conjunto destas ações vai obrigar os poucos trabalhadores do andar de baixo a obter a aposentadoria e receber pouco mais de um SM, após contribuir por 49 anos, com o mínimo de 65 anos de idade. A maioria não conseguirá, pois é extremamente difícil conseguir contribuir pelo tempo estipulado. Na realidade, estarão pagando para a manutenção dos privilégios dos marajás do andar de cima, que continuarão a usufruir de suas escandalosas benesses. Um exemplo disto é o ocorrido no Rio de Janeiro, onde os integrantes dos Poderes Judiciário, e Legislativo e a nata do Executivo recebem em dia, enquanto a maioria está há meses sem receber. Reina o caos econômico, social e político. Prepara-se um “acordão” para que “mal feitos” permaneçam impunes. Isto é inadmissível em qualquer país do mundo, ainda mais no Século XXI. Correio