O SISTEMA NÃO FECHA
Artigo publicado em 23/02/2017 - Monitor Mercantil
Economista
Marcos Coimbra
Professor, Assessor Especial da
Presidência da ADESG, Membro do Conselho Diretor do CEBRES, Acadêmico fundador
da Academia Brasileira de Defesa e Autor do livro Brasil Soberano
Tempos atrás, esta frase foi proferida
pelo ministro do STF Marco Aurélio (aliás, o único que votou contra a
demarcação da área indígena Raposa/Serra do Sol), por ocasião do julgamento dos
denominados “embargos infringentes”, de triste e penosa recordação. Somos
obrigados a concordar integralmente com ela, apenas aumentando seu raio de
abrangência. O sistema não fecha em nenhum segmento. Não só no relativo à
diferença quanto às normas de julgamento no STF e no STJ, como também na
Justiça em geral e em todos os outros segmentos da sociedade.
Sistema é
um conjunto de elementos (órgãos) e relações (funções) com um determinado
objetivo. Caso ele seja econômico, teremos um sistema econômico e assim por
diante. Ora, o presenciado em nosso país é de estarrecer e temer pelo futuro do
país. De início, não temos um Plano Nacional de Desenvolvimento e sim um
projeto de perpetuação no poder de verdadeiras quadrilhas organizadas, que se
digladiam ferozmente objetivando seu bem estar
particular e não o Bem Comum. É inadmissível que nossa nação não o tenha,
apesar de ser a nona economia do mundo, porém com outros indicadores
econômico-sociais sofríveis (renda per capita,
competitividade, Índice de Desenvolvimento Humano - IDH, capacidade de se fazer
negócios, atores básicos de competitividade, ambiente macroeconômico,
educação superior e capacitação, eficiência no mercado de trabalho, prontidão
tecnológica e inovação).
Ao invés
de estadistas capazes de planejar o futuro das novas gerações (médio e longo
prazo), infelizmente encontramos, de um modo geral, predominantemente,
arrivistas focados na manutenção de suas benesses (curto prazo), com o fim de
obtenção da reeleição e do enriquecimento a qualquer preço, abjurando promessas
de campanha, ideário, ideologias e outros compromissos. A campanha sucessória presidencial
já está em curso, prematuramente, com desastrosas consequências para o sistema
global. Administra-se para ganhar as eleições, mesmo que as decisões sejam
prejudiciais à sociedade brasileira.
Bilhões
são desperdiçados em propaganda, ao arrepio da legislação eleitoral vigente,
caracterizando a passividade da justiça eleitoral. O processo eletrônico
utilizado no Brasil, de primeira geração, sem a emissão do comprovante impresso
para ser depositado em uma urna física, capaz de permitir a conferência dos
resultados, não é confiável. Foi rejeitado até pelo Paraguai. A proliferação de
novos partidos é enorme. Dívidas de bilhões de dólares foram perdoadas a países
administrados por ditadores cruéis, corruptos de carteirinha, com vultosas
contas em paraísos fiscais, em benefício de empreiteiras poderosas, as quais
não por acaso, são as maiores financiadoras das campanhas eleitorais. Mais de
22% dos eleitores no Nordeste já são reféns das diversas bolsas existentes. Não
há como negar a consequência eleitoral. É um vale tudo sem precedentes.
Os
Legislativos passam a ser, em grande parte, departamentos dos respectivos
Executivos, os quais também são responsáveis pela nomeação dos integrantes das
Cortes de Justiça em todos os níveis, dos membros dos tribunais estaduais até o
STF. A legislação existente e a
burocracia irritante impedem que a Justiça cumpra sua missão com eficiência e
eficácia. Criminosos perigosos demoram anos para serem julgados, ocasionando a
prescrição de vários de seus delitos. Quando o são, caso não sejam absolvidos
(“na dúvida, a favor do réu”), terão penas enormes na sentença, drasticamente
reduzidas na prática, colocando nas ruas, em liberdade, marginais de alta
periculosidade, os quais logo voltarão a delinquir. Exemplo recente foi a liberação do número dois da hierarquia do PCC pela justiça
de São Paulo. É óbvio que não se apresentou à autoridade de ofício quando
deveria e agora o Ministério Público voltou a solicitar sua prisão.
O cidadão
comum é penalizado de todas as formas. É multa por jogar um papel de bala no
chão (onde estão as lixeiras?), por beber uma cerveja antes de dirigir (e os
motoristas drogados?), por não cuidar do trecho da calçada em frente ao seu
prédio (e as vias públicas como estão?), apesar de veículos pesados (alguns
oficiais) estacionarem, sem punição, em cima do seu trecho, danificando-o.
Enquanto isto, o mesmo cidadão é roubado em plena luz do dia, sem qualquer
proteção das autoridades responsáveis. Assalta-se a qualquer hora em qualquer
lugar. Carros e celulares, então.
Vândalos
depredam o patrimônio público e privado, sem repressão, sem sequer ressarcir os
danos causados, em nome de uma democracia anárquica. Blocos de carnaval
interrompem o trânsito de diversas artérias vitais da cidade, infernizando o
direito de ir e vir dos cidadãos pagadores de impostos. Foi disseminado o
patrocínio de grandes blocos por cervejarias, proporcionando grandes lucros a
elas e provocando a transformação das ruas em grandes mictórios públicos. Não
há aumento de banheiros químicos capazes de atender à demanda. Afinal cerveja é
um grande diurético. Centenas de milhares de pessoas ocupam alegremente as vias
e omitem-se enquanto são explorados, roubados, saqueados, humilhados pelas
autoridades públicas sem esboçar qualquer reação.
O caos é
geral e carecemos de esperanças. Há uma ausência preocupante de lideranças
expressivas em todos os segmentos.
Não temos
a solução para a problemática exposta acima, mas temos a certeza de que não é
assim que legaremos aos nossos descendentes um país digno, com ordem, progresso
e justiça social.