O PODER COMO OBJETIVO
Artigo publicado em 25/06/2015 - Monitor
Mercantil
Economista
Marcos Coimbra
Professor, Acadêmico Titular da Academia Brasileira
de Defesa e Autor do livro Brasil Soberano.
O
poder deve ser empregado como um meio para atingir objetivos relevantes e não
como um fim em si mesmo. A administração petista, no início de seu primeiro
mandato, passava a idéia de que possuía um plano de
governo, tendo em vista o "marketing político" feito na campanha
eleitoral. Infelizmente, depois de mais de doze anos no poder, a prática
demonstra a inexistência de um projeto, contendo políticas e estratégias,
objetivando promover o desenvolvimento e buscar alcançar o Bem Comum. Na área
econômica, limita-se a aprofundar o perverso receituário neoliberal, procurando
aumentar o superávit primário, levando a taxa real de juros acima de 6 % ao
ano, gerando uma taxa de inflação próxima a 9 % ao ano, realizando uma
verdadeira derrama fiscal, aumentando brutalmente os preços administrados,
subtraindo direitos dos trabalhadores e impondo uma acentuada política recessiva,
sem atingir os segmentos empresariais e financeiros mais privilegiados.
A administração tributária vai aumentar
a já elevada carga de 36 % do PIB, com o massacre da classe média, penalizada
cada vez mais pelo apetite voraz do fisco. Os ricos continuam a não pagar,
utilizando o planejamento tributário, dentro da legislação vigente, elaborada
pelos congressistas eleitos por nós, mas que cumprem fielmente os desejos da classe dominante. A “reforma
previdenciária” é imposta goela abaixo do Congresso submisso, ferindo até
cláusulas pétreas da Constituição. Até a cruel cobrança dos inativos já tinha
sido efetivada. Agora é a redução das pensões e outros “benefícios” e direitos.
E ainda afirmavam que o "espetáculo do crescimento" aconteceria, em
breve. Como? Somente a exportação e a produção agrícola impedem a tragédia
pior.
Assim, ao invés de um projeto de
governo, a atual administração possui um projeto de poder. Um projeto
objetivando a perpetuação no poder dos atuais governantes. A existência de 38
ministérios, ocupados, em sua maioria, por candidatos derrotados nas últimas
eleições e apaniguados, mostra o início do processo. Os escalões intermediários
da administração pública, inclusive das estatais, são ocupados por integrantes
do partido no governo. Como eles descontam parte do que ganham
para a "caixinha" do partido, o PT passou a ser o partido mais rico
do país. As verbas do Poder Executivo, em seus três níveis, são canalizadas
para as prefeituras cujos titulares são dos partidos da base governamental, preferencialmente.
O BNDES fornece generosos financiamentos para
empreiteiras e empresas amigas, a juros fortemente subsidiados, em especial
para obras no exterior. Por coincidência estas mesmas empresas são generosas
supridoras de recursos para campanhas eleitorais e para a realização de
negócios nada republicanos, alvo das investigações da operação Lava Jato. É
criado o círculo vicioso quase perfeito da perpetuação no poder. O segmento
mais rico do sistema econômico está sendo muito bem aquinhoado e o segmento
mais pobre, dependente das bolsas concedidas pelo Executivo. A continuar assim,
será muito difícil que o PT saia do poder, algum dia. Será o novo PRI
brasileiro. O mais interessante é que, no momento, não há oposição real à atual
administração, por parte dos principais partidos políticos. Quase todos os
demais partidos, em todo ou em parte, são coniventes com o processo de
implantação do partido único, de fato, no país. Ou os respectivos dirigentes e
líderes não compreenderam o que está acontecendo, sendo assim irresponsáveis ou
foram cooptados, podendo ser qualificados como cúmplices. E tudo isto em troca de "migalhas"
de curto prazo, verbas para projetos, “boquinhas” e outras benesses, em nível
muito rasteiro. Nem ministérios expressivos conseguiram obter, até o momento.
Estão com a visão obscurecida pela cobiça medíocre, sem conseguir enxergar a
médio e longo prazo.
O chamado ajuste fiscal não seria
aprovado sem a conivência do PMDB, do PSDB e de outros menos votados, os quais
fazem um discurso de "oposição", mas votam aquilo que o governo
manda. As recentes votações no Congresso, a exceção de assuntos de interesse
das atuais presidências da Câmara dos Deputados e do Senado demonstram bem
isto. Alguns pormenores são obstados, mas o principal acaba passando. Até a
redução da maioridade penal, desejo da imensa população brasileira, foi objeto
de acordo, sendo bastante conspurcada, ficando restrita aos crimes hediondos.
Bastava o PSDB e o PMDB agirem mais incisivamente para que as propostas da
administração petista serem derrotadas.
A aliança espúria feita entre o PT e os principais
donatários das capitanias hereditárias ainda existentes no país é algo
tenebroso, aético e repugnante. E eles já planejam emplacar no comando do país,
em sucessão, o “Nosso Guia”, pela terceira vez, apesar de tudo, sem o menor
escrúpulo. E o pior. Sistematicamente votam contra os interesses nacionais,
sempre. Em uma semana, é a mudança na previdência, para pior. Na outra, uma
pífia reforma política. Na seguinte, aprovam membros claramente simpáticos aos
objetivos petistas para o STF. Até o TCU vacila em aplicar a legislação vigente
no relativo às graves infrações cometidas com o emprego de “pedaladas fiscais”
e outras irregularidades. E a mídia amestrada também é cúmplice no processo,
quedando-se omissa diante dos escandalosos fatos denunciados todos os dias.
Até quando isto vai durar? A recessão
persiste e os banqueiros continuam a viver no paraíso. É hora de mudar o rumo
ou mudar o timoneiro.