MANOBRAS DIVERSIONISTAS
Artigo
publicado em 10.07.13
Prof.
Marcos Coimbra
Membro do
Conselho Diretor do CEBRES, Titular da Academia Brasileira de Defesa e da
Academia Nacional de Economia e Autor do livro Brasil Soberano.
O país ainda sofre o impacto das
significativas manifestações ocorridas, procurando entender suas causas e
consequências. Existem várias leituras, muitas diametralmente opostas, em
função dos interesses de cada analista. Em nossa opinião, o movimento foi
iniciado por uma facção de extrema esquerda radical e transformou-se em um
tsunami de reivindicações, provenientes da indignação da maioria dos cidadãos
com o modo como a classe política age no Brasil, extrapolando assim o alcance
de seus manifestantes iniciais.
O grau de prepotência, arrogância e
desprezo com que tratam a coisa pública, em paralelo ao inacreditável nível de
corrupção, nepotismo e fisiologismo, em grande parte dos três Poderes e em
praticamente todos os entes federados, fortalecidos por uma incompetência ímpar
no enfrentamento das questões mais comezinhas da administração pública foram o
caldo de cultura gerador da justa indignação pública.
Chega-se à triste conclusão de que
somente funcionam no Brasil a corrupção e o sistema de arrecadação. Pagamos
cerca de 40 % do PIB, (carga tributária de 36 % + déficit nominal de mais de
3%), para um retorno indigno em qualquer dos setores analisados. Quem é rico,
não se importa. Quem é pobre ou emergente, recebe bolsas, cotas e uma
infinidade de benesses de cunho eleitoreiro. Ora, como não existe almoço
grátis, alguém paga a conta. No caso, a verdadeira classe média, a mais
atingida pelas medidas populistas.
Não por acaso, a maioria dos
participantes dos protestos ordeiros é justamente constituída de integrantes da
classe média. Não dá mais para suportar o massacre empreendido por praticamente
todos os agentes públicos e privados em desfavor do cidadão de classe média,
que trabalha, paga seus impostos devidamente, sem retorno a altura. Seja como
consumidor ou contribuinte, o cidadão é mal atendido, humilhado, ignorado em seus direitos. Apenas possui deveres, ao
contrário dos marginais, os quais predominantemente possuem direitos, mas não
deveres.
Manobras diversionistas foram então empreendidas
pelos responsáveis pelo caos instalado no Brasil, a começar pelas propostas
apresentadas pela presidente atual (cinco pontos do “pacto”), secundadas pelas
oportunistas decisões adotadas de afogadilho pelo Legislativo. Ora, a motivação
do povo não foi uma reforma política e sim a ação nefasta da maioria dos
políticos. É evidente que, caso houvesse uma reforma política digna deste nome
e não uma tentativa de obtenção de um cheque em branco, através de um
plebiscito, com o real objetivo de implantar uma ditadura disfarçada, de
caráter bolivariano, no Brasil, a consecução dos propósitos dignos da maioria
do povo seria facilitada. Porém, com a atual composição da classe política, não
adianta alterar a legislação vigente, pois os executores serão os mesmos. Muito
menos a “democracia direta” com urnas eletrônicas sem comprovante.
É de uma hipocrisia atroz defender o financiamento
público de campanha para beneficiar preferencialmente aos atuais detentores do
poder político, sabendo-se que continuará a haver o caixa dois das grandes
empreiteiras, bancos etc., por baixo do pano. A lista fechada é um acinte à
inteligência do eleitor, tendo em vista a existência dos atuais caciques
partidários. Os escândalos noticiados diariamente não são mais ignorados. O
povo não é idiota, apesar de ser tratado como tal. Não foi apenas o aumento
(adiado por ordem do Planalto) nos transportes públicos. O gasto inexplicável
com as Copas e Olimpíadas, sem a devida herança para a população e com o alto
custo dos ingressos foi outra causa imediata deflagradora.
No dia 09 do corrente, após reunião de líderes, o presidente
da Câmara, Henrique Eduardo Alves, descartou a realização de um plebiscito da
reforma política que valha para as eleições de 2014. Ele anunciou a criação de
um grupo de trabalho para elaborar um projeto de reforma e disse que a proposta
poderá ser submetida posteriormente a um referendo, a ser realizado durante as
próximas eleições.
Mas as manobras continuarão. No dia 11 do corrente
está prevista uma paralisação tipo “chapa branca” com o propósito de desvirtuar
o rumo das manifestações para uma pauta de interesse do governo atual. Nossa
esperança é que não consigam ludibriar mais uma vez nosso povo, a fim de que a
resposta seja dada em 2014.
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