IDENTIDADE NACIONAL
Artigo publicado
em 29/06/2017 - Monitor Mercantil
Economista Marcos
Coimbra, Professor, Assessor
Especial da Presidência da ADESG,
Membro do Conselho Diretor do CEBRES, Acadêmico fundador da Academia Brasileira
de Defesa e Autor do livro Brasil Soberano.
O
processo de evolução humana concretiza-se através do progresso do pensamento do
homem, do avanço da ciência, das revoluções tecnológicas e dos processos
civilizatórios desencadeados. Trata-se de um processo complexo, desagregador de
conjuntos, montador de novos núcleos e ao mesmo tempo plural e tolerante. A
civilização é entendida como um processo de busca do conhecimento, de pensar,
sentir e agir. É cultura, acolhendo conceitos, definições e interpretações.
A
caracterização da identidade nacional consubstancia-se, inicialmente, na existência
da identidade cultural, a qual é função de fatores históricos, científicos e
psicológicos (religiosos). Sofremos influências dos portugueses, negros, índios
e imigrantes. Daí encontramos uma série de aspectos
positivos, tais como: criatividade, capacidade de adaptação, senso estético,
inteligência, índole pacífica, alegria e outras, como também algumas
características negativas: indolência, tolerância, sensibilidade extrema a
influências episódicas, tecido social frágil, oportunismo etc. Os fatores
básicos da nossa nacionalidade são provenientes das raízes evolutivas (origem,
formação, ambiente, situação geográfica, povo e cultura).
Temos
uma identidade cultural forte, baseada em uma língua comum, na raça mestiça,
com os imigrantes integrados, uma bela arte barroca, a abundância de comidas
típicas, uma natureza tropical exuberante e uma linda música. Porém, para haver
identidade nacional é preciso que o povo possua a consciência de Nação, representada pelo dever do governo de defender o trabalho, o
capital e o conhecimento nacionais. A autoestima une os dois conceitos, gerando
um fenômeno cultural que varia no tempo, dependendo do êxito da nação em
transformar em realidade os objetivos do desenvolvimento. Assim, a Nação é uma
construção coletiva a partir de uma identidade nacional. É imperioso que, além
da identidade cultural, exista um projeto nacional de desenvolvimento. Temos
exemplos de países que possuem uma forte identidade cultural, como o Brasil, e
outros detentores de uma elevada consciência de nação, apesar de não ter um
grau elevado de identidade cultural, como o Canadá.
A
identidade brasileira é proveniente do nascimento da Nação, representado pelo
idioma, etnias, bem como através do solo, clima, vegetação e relevo. Nossa base
cultural foi constituída pelo amálgama do processo de integração de
portugueses, negros, índios e imigrantes. Os portugueses contribuindo com a
língua, o cristianismo, a noção de família e um certo
desleixo. Os negros com o candomblé, as crendices da senzala, o uso de
instrumentos musicais, uma comida característica, o papel da ama-de-leite, a
adaptabilidade e a alegria. Os índios com o elevado sentimento nativista, a
desconfiança e uma certa preguiça. Os imigrantes,
excedentes populacionais em suas respectivas economias nacionais, também
influenciaram com a contribuição de suas diversas culturas. Dos principais valores formais apontamos
como sendo o principal deles o Estado, o qual é resultado de uma longa evolução
na maneira de organização do poder. Daí resultando os valores das principais
Instituições: forças armadas (elevado grau de aceitação e confiabilidade),
imprensa (garantia da livre expressão do pensamento), congresso e políticos
(menor prestígio), esportes (maior aglutinação social do país), artes, música,
folclore e símbolos (formação humana e evolução não são tão ricas como
deveriam), carnaval (momento mais festejado) e a educação (processo de
desenvolvimento do indivíduo que implica a boa formação moral, física,
espiritual e intelectual, objetivando seu crescimento integral para um melhor
exercício da cidadania e qualificação para o trabalho).
É
de se ressaltar a interferência no processo de identidade nacional por
intermédio de hábitos impostos pela “modernidade”: padrões e massificação da
mídia, com o objetivo de lucro, arquitetura, natal, “halloween”,
imitação de hábitos e costumes alienígenas, gerando frustração, escapismo,
dependência e impotência e influenciando negativamente a opinião pública. Não é
demais salientar o papel dos veículos de comunicação. A televisão ocasionando a
substituição do hábito de leitura pelo uso de recursos audiovisuais, criando
uma verdadeira ditadura do patrocinador e o círculo vicioso da baixa qualidade
e alta audiência, com a programação alterada a cada momento em função do índice
de audiência. Desta forma, falsos valores são impostos, com a centralização da
geração em SP e no RJ, com a existência de formadores de opinião sem
compromissos morais e éticos. Há o monopólio da audiência por uma única rede de
televisão e o controle gramsciano dos significados. O
rádio é o veículo de recepção ainda mais presente nos lares e os jornais e
revistas apresentam, de um modo geral, a notícia como mercadoria para um leitor
que é considerado um cliente. Excesso de sensacionalismo e denuncismo, com o
predomínio do anunciante, o qual paga mais ou menos, em
função da circulação verificada. Pouca reflexão e espírito crítico e uma
apresentação incompleta dos fatos.
Concluindo,
ressaltamos a importância da língua, como indicador de brasilidade e um elevado
grau de integração étnica, devido à ampla miscigenação existente. Como aspectos
negativos, citamos: fraca base cultural, patrimonialismo do Estado, elites
desacreditadas, imediatismo, egoísmo, desconfiança, sonho, superficialidade,
preguiça, euforia, acaso, sorte, depressão. Como aspectos positivos,
destacamos: adaptabilidade, cordialidade, boa convivência, otimismo,
curiosidade, boa fé, orgulho à nacionalidade. Existe ainda uma forte pressão
exercida pelas influências externas e a falta de reflexão e crítica conduz à
crença em falsos valores. Assim, há uma identidade nacional na atualidade,
porém menos consistente que no passado, devido principalmente a falta de um projeto nacional, ocasionando uma autoestima
baixa.