FARSA NA REFORMA DA PREVIDÊNCIA –
III
Artigo publicado em 15/12/2016 - Monitor Mercantil
Economista
Marcos Coimbra
Professor,
Assessor Especial da Presidência da ADESG, Membro do Conselho Diretor do
CEBRES, Acadêmico fundador da Academia Brasileira de Defesa e Autor do livro
Brasil Soberano.
Em artigos publicados em agosto/ setembro
neste jornal, abordamos o tema com este título, que continuamos a aprofundar,
devido à sua importância para a população brasileira. Trata-se de um engodo
praticado contra os cidadãos, pois, como já foi dito, não se começa a resolver
a grave problemática econômica nacional desta forma e sim por uma série de
outras medidas mais importantes, como, por exemplo, a diminuição drástica da
irreal taxa de juros SELIC, hoje estipulada pelo Bacen
em 13,75%. Em 2015, pagamos cerca de R$ 500 bilhões de custos (juros e
amortizações) da dívida pública, pouco acima de 45% do orçamento da União em
2014.
De acordo com a Anfip (Associação Nacional dos
Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil), que anualmente divulga os
dados da Seguridade Social, não existe déficit, pelo contrário, os superávits
nos últimos anos foram sucessivos: saldo positivo de R$ 59,9 bilhões em 2006;
R$ 72,6 bilhões, em 2007; R$ 64,3 bi, em 2008; R$ 32,7 bi, em 2009; R$ 53,8 bi,
em 2010; R$ 75,7 bi, em 2011; R$ 82,7 bi, em 2012; R$ 76,2 bi, em 2013; R$ 53,9
bi, em 2014. No ano passado, segundo a Anfip, o
investimento nos programas da Seguridade Social, que incluem as aposentadorias
urbanas e rurais, benefícios sociais e despesas do Ministério da Saúde, entre
outros, foi de R$ 631,1 bilhões, enquanto as receitas da Seguridade foram de R$
707,1 bilhões. Ou seja, mais uma vez o resultado foi positivo e sobrou dinheiro (no mínimo, R$ 11 bilhões).
No anúncio das medidas para equilibrar as contas da
Previdência que estão na PEC (Proposta de Emenda à Constituição) 287, o
secretário de Previdência Social do Ministério da Fazenda, Marcelo Caetano,
disse que o rombo nas contas do INSS (arrecadação contra despesa) ficou em R$
86 bilhões. Caetano também disse que a previsão do governo é que o rombo salte
para R$ 152 bilhões este ano e fique em R$ 181 bilhões em 2017.
"É uma falácia dizer que existe déficit. Em
dez anos, entre 2005 e 2015, houve uma sobra de R$ 658 bilhões. Este dinheiro
foi usado em outras áreas e também para pagar juros da dívida pública, cerca de 42% do total, mas isto o governo não diz",
afirma o advogado Guillerme Portanova,
diretor jurídico da Cobap (Confederação Brasileira
dos Aposentados e Pensionistas do Brasil). A diferença entre o déficit (de R$
86 bilhões) e o superávit (de R$ 24 bilhões), dependendo da fonte considerada,
em 2015 foi de R$ 110 bilhões. Analisando os dados da Anfip,
nota-se que o superávit da Seguridade Social está perdendo fôlego, mas é ainda
consideravelmente alto para contestar a teoria de rombo. A arrecadação da
Seguridade Social inclui o Cofins,
o CSLL, o Pis-Pasep, impostos sobre exportações,
impostos sobre as loterias, entre outros. "O governo usa a DRU
(Desvinculação de Receitas da União), atualmente 30%, para transferir o
superávit da Seguridade Social, proveniente dos tributos, e cobrir outras
despesas. O déficit no INSS é fictício e fruto de uma manipulação de
dados", disse Portanova.
Segundo a Profª Denise
Gentil Lobato, eis as mais recentes reuniões do secretário de Previdência, Marcelo
Caetano, o homem da reforma, desde que a administraçãoTemer
assumiu, com algumas expressivas coincidências, de 29.07 a 30.11: Gap Asset Management, Banco BBM, confederações patronais,
Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e
Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNseg),
Conselho Nacional dos Dirigentes de Regimes Próprios de Previdência Social (Conaprev), Conselho Nacional dos Dirigentes de Regimes
Próprios de Previdência Social (Conaprev),
Confederação Nacional da Indústria (CNI), Instituto Brasileiro de Mercado de
Capitais (IBMEC), Conselho Nacional de Previdência Complementar (CNPC),
Conselho de Administração da Brasilprev, Bradesco, JP
Morgan Private Bank, Fitch Ratings, Banco Santander, Fundo Monetário Internacional
(FMI), Fórum das Empresas Transnacionais (FET), Bradesco e Wellington Management, PIMCO, MBL, Fiesp,
Teleconferência com representantes do Bradesco BBI, Standard & Poor’s, XP Investimentos e JP Morgan Private Bank.
Agravado pelo rebaixamento do antigo ministério da
Previdência para apenas uma secretaria do ministério da Fazenda, as informações
citadas acima insinuam que as verdadeiras razões da reforma da previdência são
outras. É evidente que o sistema não suporta o desvario de superaposentadorias
existentes nos três Poderes, nem a irresponsável desoneração tributária e
previdenciária adotada, muito menos a sonegação, os altos custos da máquina
arrecadadora e os múltiplos desvios nas arrecadações, sem falar nas fraudes
existentes e encargos crescentes sem devida contrapartida. Mas a consequência
lógica, caso ela seja aprovada, é a corrida para os fundos privados de pensão,
como o Brasilprev que já
anunciou um expressivo aumento de seus negócios.
Alguém em sã consciência acredita que um
trabalhador vai conseguir ocupação por 49 anos a fim de preencher as utópicas
regras propostas? A solução natural será escapar do sistema oficial e buscar
outras vias. Afinal, qual a razão para descontar sobre o máximo, se a realidade
mostra que todos acabam auferindo pouco mais de um salário mínimo?