EXPLORAÇÃO DESCABIDA AO CIDADÃO
Artigo publicado em 09/09/2016 - Monitor
Mercantil
Economista
Marcos Coimbra
Professor,
Assessor Especial da Presidência da ADESG, Membro do Conselho Diretor do
CEBRES, Acadêmico fundador da Academia Brasileira de Defesa e Autor do livro
Brasil Soberano.
A principal fonte de arrecadação do governo é
originária dos tributos, os quais, segundo o Código Tributário Nacional em
vigor, são: impostos, taxas e contribuição de melhoria. Vários autores afirmam
que no Brasil encontramos cerca de 60 tributos, o que não é exato. Existem em torno de sessenta tributos e contribuições de
todos os tipos, envolvendo desde os tradicionais impostos, como IPI, ICMS,
Imposto sobre a renda, até COFINS, FINSOCIAL e outras arrecadações que compõem
as chamadas outras receitas correntes do governo.
Além de a carga tributária real ser elevada, em
torno de 36% do PIB ao ano, caso não houvesse uma sonegação da ordem de 100% do
valor arrecadado, ela seria o dobro, pois a cada real arrecadado corresponde um
real sonegado, em média. Assim, quando as alíquotas são elevadas, aumenta o
estímulo à sonegação (Curva de Laffer). O correto seria a diminuição das
alíquotas cobradas, para aumentar o universo tributário e arrecadar mais,
cobrando menos de todos.
Contudo, é vital flagrarmos e denunciarmos os
excessos que ocorrem hodiernamente no país, constituindo praticamente uma
regra. Começando pela habitação, onde o contribuinte paga
um IPTU cada vez maior, mas baseado num valor venal desprezado quando o
referido imóvel é vendido, pois as prefeituras arbitram um ITBI calcado em
valores que chegam a atingir 2 a 3 vezes o valor
estipulado no IPTU, bem acima do mercado. Quando o imóvel é foreiro à União,
ainda paga o anacrônico foro (aumentado em 40%) e, em caso de venda, o laudêmio
(2,5% sobre o valor) além de todos pagarem a taxa de prevenção de
incêndio. Além da União, vários outros
órgãos e famílias cobram a citada contribuição, como, por exemplo, os
descendentes da família real brasileira.
Caso tenha um automóvel, é obrigado
a pagar o IPVA, bastante elevado, em especial no Rio de Janeiro, cujo objetivo
principal é a conservação das ruas, rodovias e estradas, porém ao mesmo tempo,
ou as mesmas estão em péssimas condições ou então são entregues à exploração
predatória de empresas privadas, que chegam a cobrar (caso da Via Lagos) R$ 18,30
de ida e mais o mesmo valor na volta, para um percurso de menos de 100 km. E a
Linha Amarela, construída com recursos públicos, foi entregue à exploração de
empresas privadas pela Prefeitura do Rio de Janeiro, com preços cobrados, a
título de pedágio, cada vez maiores. E ainda paga um seguro elevado pelo
automóvel, pois o governo não garante a segurança pública, além de existirem as
indústrias das multas, onde empresas particulares participam com generosos
percentuais dos valores extorquidos, transformando a filosofia do código
brasileiro de trânsito de educativo em repressivo, instrumento de captação de
recursos. E ainda há outras indústrias: vistoria, controle de poluição (ao
invés de obrigarem as montadoras a resolver o problema, penalizam o comprador
que acaba de adquirir o automóvel 0 km na revendedora). E continuam a temporada
de caça ao contribuinte, achacando-o de todas as maneiras imagináveis e
inimagináveis. Até os preços dos serviços públicos são brutalmente elevados num
mecanismo de extorsão paralelo, onde combustíveis, energia, gás, comunicação
apresentam índices de crescimento de preços bem superiores à taxa oficial de
inflação. São corrigidos normalmente pelos índices que justamente apresentam o maior
valor na atualidade. Pesquisa do DIEESE mostrou que na vigência do Plano Real,
os preços que mais aumentaram foram justamente os dos setores de preços
administrados, recém-privatizados em sua maioria, justamente sob o pretexto de
que passariam a ter reajustes suaves, pois estaria submetido aos ditames da
livre concorrência.
No âmbito da empresa é um cipoal de contribuições,
como, por exemplo, as do chamado sistema "S" (SENAI, SENAC, SEBRAE
etc.), sobre lucro presumido e mais tantas outras, que levam os pequenos e
médios empresários ao desespero e à sonegação. O cidadão sente-se extorquido a
cada instante e cada vez mais, num paroxismo frenético. Seus rendimentos reais
vão diminuindo e seu poder de compra decrescendo. Ele é sugado ao máximo, sem
pudor, por tecnoburocratas. Até a controversa Lei de Responsabilidade Fiscal foi
imposta, a pretexto de controlar os gastos dos administradores, quando na
realidade objetiva garantir o pagamento de vultosos juros aos rentistas. É de
se esperar, para equilibrar, a aprovação de uma Lei de Responsabilidade Social,
a fim de garantir a aplicação de recursos do setor público, em um percentual
mínimo do orçamento, fixado de acordo com os interesses da sociedade, em
investimentos sociais.
É hora de um basta a esta covarde exploração do
cidadão brasileiro para propiciar o pagamento de juros internos e externos
escorchantes. E sem a contrapartida adequada, pois as administrações públicas (federal, estadual e municipal, não retribuem, como seria o
devido, as contribuições exigidas, fornecendo os serviços públicos essenciais,
na quantidade e qualidade necessária, seja na saúde, na educação, na segurança
pública, nos transportes, nas comunicações e na energia.