ECONOMIA EM CRISE
Artigo publicado em 22/10/2015 - Monitor
Mercantil
Economista Marcos Coimbra
Professor, Membro do Conselho Diretor do CEBRES, Titular da Academia
Brasileira de Defesa e Autor do livro Brasil Soberano.
Amargarmos
uma brutal “estagflação”, caracterizada pela perversa combinação de um agudo processo
de inflação, com taxa próxima a dois dígitos previstos para o final do ano, com
uma recessão prolongada. A renda real dos trabalhadores decresce
acentuadamente, a indústria sofre quedas sucessivas a cada período de tempo e o
desemprego avança. Não conhecemos qualquer segmento da economia real que esteja
satisfeito, além do "agronegócio", que continua a resistir
bravamente, não sabemos até quando. Nossa dívida bruta chega a mais de 65% do
PIB e pagaremos no corrente ano em torno de R$ 500 bilhões de juros da dívida
pública. Fatos que impossibilitam a retomada do processo de crescimento
econômico, a fim de que possamos depois voltar a sonhar com o esperado
desenvolvimento econômico. Em todas as camadas da população, dos níveis mais
baixos de renda até aos mais elevados, a queixa é a mesma, guardadas as devidas
proporções. Não há dinheiro, não há emprego, com exceção do setor financeiro.
Muitas pessoas equivocam-se em imaginar
que a Economia é uma ciência fria, desumana, interessada em perpetuar as condições
existentes de desigualdade, seja a nível pessoal, regional ou setorial. Isto é
explicado, em parte, pela
maciça divulgação pelos meios de comunicação de massa dos malefícios de um
capitalismo selvagem, dissociado do que deveria ser na realidade. Sua própria
conceituação caracteriza-a como ciência social, cujo grande objetivo é a
maximização da função de interesse coletivo da comunidade, aproximando-se assim
do conceito do bem comum, ideal de convivência capaz de, ao mesmo tempo em que
assegure a busca do bem-estar, construa uma sociedade onde todos tenham
condições de plena realização de suas potencialidades e do exercício constante
de valores morais, éticos e espirituais.
Desta forma, o principal objetivo de um
sistema econômico deve ser o de garantir o pleno emprego dos fatores de
produção, ou seja, proporcionar trabalho a todos os componentes da população
economicamente ativa (PEA), em torno de 80 milhões de pessoas, com plena
utilização própria dos nossos vastos recursos naturais.
E, no Brasil, tudo isto é perfeitamente factível. Como? Basta, de início,
diminuir a sonegação em 50%, o que provocará recursos adicionais da ordem de
cerca de R$ 300 bilhões, em uma estimativa modesta, a serem investidos na infra-estrutura econômica e
social, procurando assim retornar a obter uma formação bruta de capital fixo de
25% do PIB. Em seguida, diminuir expressivamente a imoral taxa de juros ainda
em vigor. Desta forma, serão ativados os setores de energia, transportes,
comunicações, saúde, saneamento básico, educação, segurança, ciência e
tecnologia.
Garantidos os recursos, vamos verificar
o que pode ser feito na área social. Inicialmente, a garantia de que o país,
voltando a crescer 7% ao ano, aumente a produção, a oferta agregada, gerando
mais empregos, seja no setor terciário, o qual no terceiro milênio será o
grande absorvedor de mão-de-obra, seja no estímulo às atividades do
"agrobusiness", acoplando o setor secundário ao setor primário. Desta
forma, aumentando a oferta de trabalho, havendo mais equilíbrio entre oferta e
demanda de emprego, melhorando a qualidade dos postos de trabalho, os salários
serão maiores, proporcionando o crescimento do mercado interno, provocando
maior incremento da produção interna, tradicional absorvedora de mão-de-obra.
Este é o ciclo virtuoso do desenvolvimento.
E o segredo do
desenvolvimento está justamente na qualidade dos recursos humanos, em especial
na garantia de uma sólida educação básica, realmente formadora, capaz de
propiciar a profissionalização daqueles que desejarem e, em paralelo, um ensino
superior voltado para a pesquisa, em consonância com os anseios da comunidade,
pois hoje mais do que nunca o mais importante é o capital humano. E somente uma
população verdadeiramente habilitada é capaz de libertar-se da opressão dos
“malignos” e assegurar o pleno desenvolvimento do Brasil. A receita é
justamente a contrária à empregada pela atual administração, ou seja,
sacrificar a população, por intermédio de "reformas" de caráter
confiscatório, que estão provocando a queda da renda pessoal disponível real e,
em consequência, do consumo das famílias, enquanto propiciam ao segmento
financeiro os maiores lucros da história. Em paralelo, concedem benesses
dissociadas da realidade, pagando “bolsas” de toda ordem, com o propósito de manter-se
no poder, através da criação de um eleitorado cativo, incapaz de trabalhar,
devido ao hábito do ócio. Como dizia o grande poeta Gonzaguinha: “Um homem se
humilha se castram seu sonho. Seu sonho é sua vida e a vida é o trabalho. Sem o
seu trabalho, um homem não tem honra. Sem a sua honra, se morre, se mata. Não
dá pra ser feliz, não dá pra ser feliz”. O povo brasileiro não precisa de esmola. Ele
deseja a oportunidade de ter um trabalho digno, com justa
remuneração.