ARMADILHAS PERFEITAS
Artigo publicado em
05.09.13-MM
Prof.
Marcos Coimbra
Membro do
Conselho Diretor do CEBRES, Titular da Academia Brasileira de Defesa e da
Academia Nacional de Economia e Autor do livro Brasil Soberano.
O DETRAN-RJ parece ter encontrado a receita ideal
para elaboração de uma armadilha perfeita. Com uma arrecadação superior a R$ 1
bilhão por ano, investe apenas 1,12% deste montante, a maior parte em pessoal e
pouco em manutenção. Até o momento, dos R$ 12 milhões para investimentos em
2013, apenas R$ 4 milhões foram usados efetivamente.
Além do IPVA ser um dos mais caros do Brasil, os
infelizes proprietários de veículos cadastrados no Estado são
obrigados a realizar vistorias anuais, abrindo exceção apenas para as viaturas
zero quilometro, enquanto que em outros Estados a vistoria é feita a cada três
anos ou até mais. Se houvesse estrutura para atender bem aos contribuintes,
isto até poderia ser aceito. Porém, o cidadão passa por um sacrifício inaudito,
semelhante a um décimo terceiro trabalho de Hércules para cumprir as exigências
“inventadas” pelas autoridades. Na realidade, o objetivo principal é arrecadar
muito do contribuinte para usufruto das “autoridades”.
Os parcos recursos para modernizar o sistema do
DETRAN acabam por fazer com que os usuários se surpreendam com uma impressora
que só funciona à base de remendos com clipes e elásticos e um computador que
já deveria ter sido aposentado. Ambos foram vistos, no posto Machado de Assis,
no Catete, único para vistoria na Zona Sul. A manutenção deixa a desejar.
Cadeiras de plástico sujas e rachadas também trazem desconforto a quem procura
o posto do Catete.
O DETRAN chegou a esse ponto por falta de
investimentos confirma a presidente do Sindicato dos Funcionários do DETRAN,
Maria da Penha Afonso Machado. No começo de julho, ela recebeu um dossiê
elaborado por examinadores do órgão. O documento, encaminhado à presidência do
DETRAN, relata a falta de balizas, uma demanda maior que o número de
funcionários, equipamentos de filmagem (usados durantes os exames) quebrados,
banheiros químicos sem limpeza alguma e até lixo em locais de prova. Os
vistoriadores também preparam um dossiê sobre as condições de trabalho. A
principal reclamação é sobre os níveis de poluição dos postos. As pessoas
pagam, e não é pouco, por um serviço deficiente. O número de reclamações
aumentou, sendo a principal queixa sobre a diminuição do quadro de
terceirizados, que fazem as vistorias.
Desde o início do ano, foram 178 denúncias contra o
DETRAN, entre elas a demora no atendimento e a dificuldade de agendar vistoria
para um posto próximo. A espera para ser chamado normalmente é no mínimo de uma
hora e meia, podendo chegar a três horas. E caso o cidadão não tenha realizado
a vistoria, mesmo com ela agendada, será impiedosamente multado em uma blitz,
tipo “lei seca”, quando os agentes verificam em seus equipamentos eletrônicos
as placas dos autos sem a vistoria. Depois, fingem ignorar as razões da
indignação popular quanto à caótica administração estadual, que motivaram a
eclosão de manifestações.
Outro assunto a ser abordado, agora no âmbito
municipal, é relativo à demolição do viaduto da Perimetral no Rio de Janeiro.
Existe um movimento na Internet contrário ao autoritarismo do alcaide, ao qual
pensamos que todos os cidadãos conscientes devem aderir, que se expressa da
seguinte forma: “O viaduto da Perimetral hoje não é uma simples estrutura que
poderia vir a comprometer a beleza da nova zona portuária. Por ali passam
muitos veículos todos os dias, que precisam de uma via
de escoamento como aquela, que hoje quase não dá vazão ao trânsito.
Não faz sentido gastar fortunas para demolir esse
viaduto a fim de construir um mergulhão que não tem eficácia comprovada.
Mergulhões normalmente não funcionam (vide o da Praça XV). Um tratamento
paisagístico, sem dúvida poderia melhorar o local. Exigimos uma análise de
impacto da derrubada dessa via, e queremos que todos os documentos referentes
aos gastos desse processo estejam abertos e disponíveis na internet. Só medindo
o custo dessa obra no bolso e no trânsito do carioca, é que poderemos entender
o que isso significa!”
Trata-se de outra armadilha perfeita, pois os
cidadãos não foram consultados sobre decisão de tamanha gravidade, capaz de
originar uma “herança maldita” para as gerações futuras, em função da
prepotência, arrogância e despreparo do alcaide, que
despreza a opinião pública, em virtude de contar com a maioria na Câmara
Municipal. As empreiteiras vão ficar mais milionárias, ele vai embora e o povo
vai sofrer por gerações.
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