A INJUSTIÇA DA JUSTIÇA
Artigo publicado em 20/10/2016 - Monitor
Mercantil
Economista
Marcos Coimbra
Professor,
Assessor Especial da Presidência da ADESG, Acadêmico Titular da Academia
Brasileira de Defesa e Autor do livro Brasil Soberano.
Existem poucas dúvidas sobre a ineficácia atual da
ação do Poder Judiciário. A boa Justiça, como esperança daqueles que a
procuram, deve ser rápida. Para a maioria da população é inconcebível a
excessiva demora da decisão final e da concretização dos seus efeitos. Todos
nós possuímos vários exemplos a enumerar.
Por exemplo, ganhamos grande parte de uma ação contra uma instituição
particular de ensino, que demorou quinze anos para terminar. É algo
inacreditável. Outro exemplo, um arrolamento de bens, oriundo de um testamento
para um herdeiro único, sem qualquer problema, demorou quase três anos para ser
concluído. E isto se pagando parcela considerável do montante para advogado,
custos judiciais, tributos federais, estaduais e municipais.
Um juiz indeferiu uma ação, em virtude
de ter falecido o reclamante. O mesmo está até agora procurando provar que está
vivo. Até hoje a ação do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro, que entrou
com uma ação em favor de funcionários do Banco do Brasil, solicitando
equiparação com os do Banco Central (40%), apesar de ganha em última instância,
com sentença transitada em julgado, não foi paga. O Banco, fora do prazo,
inventou um recurso para esfera superior, para protelar o pagamento, em uma
evidente demonstração de má fé. E ninguém faz nada. Cada leitor poderia apontar
vários outros exemplos.
Na realidade, a culpa não reside só no
Judiciário. Também é do Legislativo e do Executivo. Há necessidade de controle
externo dos três poderes, apesar de o Legislativo e o Executivo afirmarem que
já os possuem. Porém, eles são
ineficientes e ineficazes. E o Judiciário precisa também de ter um efetivo. O
Conselho Nacional de Justiça foi esvaziado. É inaceitável a situação atual, em
que, de fato, ninguém controle ninguém. Ressurge a esperança com a nova
Presidente Cármen Lúcia, do STF.
Nas administrações públicas, o corporativismo
impera. Cada um faz o que quer. Aumentam seus próprios salários, contratam
parentes e apaniguados sem concurso. É a política de criar empregos para os
“companheiros”. Foi noticiada a existência de mais de 100.000 cargos comissionados,
apenas na esfera federal. Calcula-se que o PT perderá cerca de 70.000 cargos
comissionados em todas as três esferas de poder. Só para os correligionários. Enquanto isto,
milhões de brasileiros sequer conseguem um modesto trabalho, com carteira assinada,
para receber um salário mínimo, devido ao cruel modelo econômico em execução, o
mesmo aplicado pelas administrações anteriores. Com a anunciada reforma da
previdência, vão morrer sem conseguir a aposentadoria. Ela atinge apenas o
andar de baixo, preservando os privilégios do andar de cima. Afinal, cerca de
2/3 dos aposentados recebe cerca de um salário mínimo ou pouco mais.
A Sociedade Brasileira não suporta mais
a extorsão a que é submetida todos os dias, pelos eternos marajás. De um lado,
os privilegiados, detentores de todas as benesses materiais existentes. Viagens
de primeira classe, a preços mais baixos, para o mundo inteiro. Várias e
abundantes refeições, todos os dias, de preferência "churrascadas"
com "peladas", pagas pelos contribuintes. "Boquinhas" para
os correligionários. No meio, a classe média em extinção, sendo explorada por
todos e ainda sendo culpada, pela mídia amestrada, pelo "privilégio"
de poder aposentar-se, por enquanto. Do outro, a classe denominada de menos
favorecida, que sobrevive graças a expedientes diversos, recebendo bolsas de
toda ordem, fazendo até “gatos”, acomodada à pobreza.
As recentes “benesses” criadas por
integrantes do Judiciário, como auxílio-educação, férias de vários meses,
expedientes enforcados, aumentos desmesurados de rendimentos, em um momento no
qual praticamente todos os segmentos da sociedade sofrem um violento processo
de privação material de toda ordem chega a soar como uma agressão. No mínimo,
significa insensibilidade social. O anúncio da existência de cerca de cem
milhões de processos significa não apenas o ambiente de desagregação social
atravessado pelo país, como a desmesurada exploração dos cidadãos e
contribuintes, por empresas inescrupulosas, pelas administrações federal,
estaduais e municipais e pela excessiva burocracia do rito processual vigente
no sistema judiciário. Enquanto o Juiz Sérgio Moro já condenou dezenas de
infratores, quantos o foram pelo STF?
O formalismo supera a objetividade, atingindo as
raias do absurdo, sacrificando o essencial pelo supérfluo. Processos demoram
meses parados e outros períodos exagerados de tempo para passar de uma mesa
para a mesa vizinha. Exigências exageradas são impostas, atrasando por mais
vários meses o andamento dos processos. Muitas vezes sentenças são proferidas
sem a devida leitura dos processos por juízes, que delegam a função para
assessores sem preparo, não concursados. As partes e seus advogados são
tratados com indiferença por muitos magistrados, que olvidam sua condição de
servidores públicos, prejudicando a imagem da maior parte dos seus colegas,
capazes de entender que estão julgando fatos capazes de afetar
significativamente seres humanos com carências inadiáveis e não peças
inanimadas.
E a solução? Ela existe. Principia pelo
fato de que os cidadãos façam as escolhas certas, na hora correta e
reivindiquem junto aos órgãos superiores seus direitos. Está na hora de mudança
geral objetivando a imediata correção dos desequilíbrios existentes.